Leitura de Lucas 12.49-56
Prezada Comunidade, estimados radio ouvintes da radiowebluteranos.com
O texto do Evangelho de Lucas é bastante forte para um Dia dos Pais. Mas ele pode nos ajudar a refletir sobre nossa tarefa como pais e educadores.
Essa semana li uma pesquisa de Jean Decety, um neurocientista e psicólogo da Universidade de Chicago. A pesquisa diz que as crianças entre 5 e 12 anos criadas em ambientes religiosos nos Estados Unidos são menos generosas. Ele concluiu que é mais fácil encontrar generosidade nas pessoas sem religião.
Outra informação nessa pesquisa foi que a religiosidade faz com que as crianças sejam mais agressivas e severas – por exemplo - na hora de reagir os empurrões na escola. A pesquisa conclui dizendo que o tipo de educação religiosa está diretamente relacionado com o aumento da intolerância e das atitudes punitivas. Em resumo, as crianças criadas em ambientes religiosos conservadores, intransigentes, seriam menos generosas e mais propensas a castigar e a reagir de maneira agressiva.
Fiquei pensando: será que esse pesquisador tem alguma coisa contra as igrejas?
Quando eu aceitei o chamado de Deus para estudar teologia, ser pastor, dedicar a minha vida à Igreja é porque eu achava que a igreja poderia ajudar as pessoas a serem mais generosas, mais solidárias, mais acolhedoras, mais compreensivas. E aí leio essa pesquisa que diz que as crianças criadas em ambientes religiosas fazem justamente o contrário. É algo bastante frustrante. O que pensar de tudo isso?
No Evangelho de hoje vemos a Jesus bastante frustrado e decepcionado com o que ele está vendo entre seus seguidores(as). Jesus quer cumprir de uma vez por todas, o plano de salvação de Deus. Mas alguns de seus seguidores e seguidoras não tem o mesmo entusiasmo. Entre os seus seguidores, Jesus percebe uma forte divisão, inclusive dentro das próprias famílias. É pai contra filho, mãe contra filha, irmãos querendo se matar uns aos outros. Coisas que nós conhecemos e vemos ainda hoje.
O que decepciona a Jesus na discórdia familiar é a intolerância de dois lados que se dizem cristãos.
Aí Jesus diz que ele veio trazer divisão, ele veio trazer discernimento. Não dá para alimentar o ódio, não dá para dizer que se é cristão e ao mesmo tempo ser uma pessoa intolerante, arrogante e agressiva. Não dá para deixar essas coisas misturadas. Quando as relações terrenas me induzem a não fazer de Jesus e do Reino de Deus a minha prioridade maior, então devemos nos arrepender e voltar para o caminho de Jesus. Não dá para ficar indiferente
Jesus usa então um exemplo da natureza para dizer: Vocês são capazes de entender os sinais climáticos, sabem o que vai acontecer depois de um vento do Sul, ou o que vai acontecer quando surgem algumas nuvens no Oeste. Mas vocês não conseguem entender as consequências da intolerância e do ódio em suas próprias famílias. É como se Jesus nos dissesse hoje: Vocês têm acesso a tanta tecnologia, tem tanta informação e ao invés de usar isso para o bem, vocês usam isso para promover o ódio e as piores atrocidades jamais vistas antes.
Jesus não está contra o fato de haver divergências. Ele não está contra o fato de as pessoas terem opiniões diferentes. Um filho não pensa igual ao pai, uma filha não pensa igual como a mãe, irmãos e irmãs pensam diferente uns dos outros. Isso é assim em todas as famílias. O problema é quando um odeia o outro, quando as divergências são tão grandes que um não aceita o outro que pensa diferente, quando um não é mais capaz de escutar o outro. Quando não olhamos e nem escutamos mais os outros, nossa vida vira um inferno.
Voltando a pesquisa sobre a falta de generosidade e a intolerância entre crianças cristãs de 5 a 12 anos nos Estados Unidos, a questão fundamental não é a religião, mas que tipo de religião que se ensina aos filhos nas casas e nas igrejas. A convivência com pessoas adultas intolerantes, que falam com ódio das pessoas homoafetivas, por exemplo, pessoas que são contra os direitos especiais das pessoas com deficiência, das comunidades quilombolas, dos indígenas e que usam a Palavra de Deus para justificar sua intransigência - essas atitudes radicais tem como efeito gerar a intolerância, a indiferença nas crianças e a falta de compaixão com quem é diferente.
O que podemos fazer?
Certamente não ajuda ficar em silêncio. Nós já vimos que em situação de extremismos, de radicalismos, não existe um caminho do meio. Como seguidores de Jesus - é necessário tomar uma posição profética pelo fim do ódio e da agressividade entre as pessoas.
Se as pessoas que querem o bem e a paz se calam, então o mal vai se sentir ainda mais encorajado a continuar praticando a maldade. É do pastor Martin Luther King a seguinte frase: O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons. A maldade cresce quando a bondade se cala.
Por isso, nesse dia dos pais - nós que somos pais/mães, padrinhos e madrinhas devemos estar atentos ao que as crianças ouvem dos adultos em nossa família, ao que veem na internet. Até mesmo no culto infantil, devemos ter o cuidado para não contar histórias bíblicas que as crianças ainda não são capazes de entender, como por exemplo, histórias de guerras, de violência e no final da história ainda entregar uma espada de papelão para cada criança. Devemos ter o cuidado para não estimular a agressividade nas crianças. Se o seu filho(a) gosta de luta, então - antes que ele se entusiasme com o MMA - talvez seja melhor levá-lo ao judô ou outras artes marciais, onde se ensina que a agressividade somente deve ser usada para se defender e conter a violência do outro.
Muitas vezes não sabemos como viver a mensagem do Evangelho, muitas vezes não sabemos o que Deus espera de nós, mas hoje temos um chamado muito claro. Que não sejamos promotores do ódio, da violência. Jesus nos diz que tudo aquilo que promove a violência, que humilha, que discrimina outro ser humano – isso não é de Deus.
Nós podemos viver num mundo menos violento, mais tolerante, um mundo onde todas as pessoas e a natureza sejam tratadas com dignidade e respeito. Se esse mundo ainda não existe, cabe a nós - pessoas cristãs -ajudar a construí-lo, no dia a dia, começando em nossas famílias onde devemos estimular, incentivar e motivar nossos filhos(as), afilhados(as) a fazerem o bem em suas vidas.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.