No início de cada celebração temos a seguinte palavra de saudação: “Este é o lugar! Este é o momento! Aqui e agora, Deus quer se manifestar em nossas vidas!”
Ao saudar a comunidade reunida, com essas palavras, redefinimos a compreensão usual do ‘culto’. Esse termo leva a uma compreensão inadequada. Culto ou cultuar sugere devoção devida à divindade. Ao ser humano, cabe responder com práticas que possam ser oferecidas à divindade para que ela seja favorável ao fiel praticante.
Diante do inusitado, das forças ameaçadoras, das questões sobre as quais não temos domínio, além dos limites e erros - apesar de tudo, não nos sentimos simplesmente expostos ao imponderável.
Na prática da fé e da comunhão fomentamos confiança em Deus, no seu poder supremo e justo. Ele se importa, se envolve e se compromete com os seres humanos e seu destino.
Não conseguimos falar das nossas vidas sem falar de Deus; nem falar de Deus sem falar das nossas vidas.
Deus faz questão de nos visitar. E estar sempre com os seres humanos. Ele se relaciona e interage de forma solidária, leal e amorosa.
O ponto de partida para uma celebração é a resposta receptiva ao visitante. Por esse motivo a compreensão cristã luterana não parte da necessidade de cultuar. As celebrações dominicais visam ouvir a palavra, compartilhar experiências, vivências, desafios, medos, impulsos – desfavoráveis e favoráveis - na preservação do bem comum.
A promessa de Jesus Cristo, no Evangelho de Mateus, capítulo 18, versículo 20, reforçam essa compreensão: “Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei ali com eles”.
Celebramos a continuidade das nossas relações, amizades, beleza do amor nas bençãos matrimoniais e bodas, batismos, continuidade da vida a cada nova geração, nas confirmações que são o rito de passagem de filhas e filhos para a vida adulta. Mesmo na comunicação dos falecimentos, encontramos forças para colocar um ponto e vírgula, onde a morte insiste num ponto final. Ao compartilhar a Santa Ceia, na comunhão com Jesus Cristo, resgatamos a dimensão do que é humano e a capacidade de amar de uma forma irrestrita e incondicional.
É a palavra de Deus que cria a comunhão e conduz a dádiva da universalidade experimentada em comunidade.
Palavras de Sabine Dauch: “Esse é o meu lugar. Aqui posso falar e ouvir. Fazer perguntas a respeito de tudo e tentar dar respostas a elas. Posso interagir com os outros, contribuindo com ideias próprias. Também, simplesmente, permanecer sentada, ouvindo e assimilando. Encontro portas abertas e, se possível, posso ensaiar receptividade na relação com outros. Encontro lugar para orar e restabelecer forças. Aqui me é permitido apreender e compartilhar as minhas experiências. Aqui é o meu lugar. Essa é a minha Comunidade!”
P. Hermann Wille 18 de Setembro, 2020