Quaresma - Tríduo Pascal - Tempo Pascal



ID: 2656

Sobre a quarta tentação de Jesus

O que faz algumas pessoas seguir em frente, mesmo correndo risco de morte ou passando por grandes dificuldades?

10/03/2022

Lucas 13.31-35
Prezada Comunidade.
Acabamos de ouvir um texto bíblico onde os fariseus se mostram preocupados com a vida de Jesus. Os fariseus ainda não eram inimigos de Jesus. Eles ainda parecem amigos. Aconselham Jesus a ir embora. O rei Herodes quer matar a Jesus. Jesus é um perseguido político. Talvez fosse melhor ele sair do país, pedir asilo no Egito.

A ameaça de Herodes era real. João Batista havia sido preso há semanas atrás e em seguida foi decapitado. (9.7-9; Mc 6.27).
Jesus chama Herodes de raposa (v. 32). Isso naquela época significa ser ardiloso, (cf. Mc 8.15; Ez 13.4), sem dignidade. Herodes foi a única pessoa a quem Jesus tratou assim. Herodes quer matar a Jesus. Ele quer calar a mensagem do Evangelho. Isso faz dele um inimigo do Reino de Deus.
Apesar do perigo, Jesus não se intimida. Ele encara mais essa tentação. Ele sabe do perigo, que ele pode ser preso e assassinado. Mas Jesus coloca essa situação nos planos de Deus. “Eu preciso seguir o meu caminho hoje e amanhã e depois de amanhã, pois um profeta não deve ser morto fora de Jerusalém”(v.33). A vida de Jesus tem um propósito e os momentos difíceis de sua vida estão de dentro do plano de Deus. Deus já sabe tudo o que vai acontecer e nada vai acontecer fora dos planos de Deus.

Ao avistar a cidade de Jerusalém, Jesus se enche de lamento e de tristeza. A cidade de Jerusalém era a cidade sagrada, a cidade do Templo, mas não era um lugar seguro. Era uma cidade violenta. Por exemplo, a maioria dos profetas do Antigo Testamento assassinados e apedrejados (11.47ss.; 2 Cr 24.20ss.; Mq 1.1; Jr 1.1; 26.20ss.; l Rs 18.4). Jesus, ao dizer que também ele pode morrer em Jerusalém, revela ter a paz de espírito de saber que sua morte não destruirá sua obra, e sim a fará culminar. Ou seja, quando se vive por amor, as dificuldades não nos desanimam. Assim foi tb com Jesus que com a subida a Jerusalém ele buscou a sua morte, mas sim continuar seguindo os planos de Deus. Apesar da tristeza e do temor diante da perseguição do rei Herodes e da violência de Jerusalém, Jesus não abandona os planos de Deus. Ele confia em Deus e segue em frente.

O que faz algumas pessoas seguir em frente, mesmo correndo risco de morte ou passando por grandes dificuldades?

Em 12 de fevereiro de 2005 dois fazendeiros mandaram assassinar a freira chamada Doroty Stang em Anapu, região central do Estado do Pará. Ela foi morta com seis tiros à queima-roupa. A irmã Dorothy já tinha sido ameaçada algumas vezes, porque ela denunciava a derrubada da mata e a venda ilegal da madeira da floresta. A freira defendia os pequenos agricultores e o manejo racional e sustentável da floresta. A maioria dos crimes no Brasil permanece na impunidade. Mas nesse caso, todos os acusados foram condenados.

Diante dessa impunidade, muitas pessoas se perguntam: Vale a pena entregar a sua vida por essa causa, sabendo que quem manda matar na maioria dos casos fica impune? A irmã Dorothy dizia que a resposta está no amor, não na recompensa. O amor a uma causa faz a gente se entregar. Quem encontra um motivo pelo qual vale a pena viver também encontra um motivo pelo qual vale a pena dar a vida.

Essa é a mensagem do Evangelho de hoje para nós: seguir a Jesus significa estar comprometido com o Reino de Deus. E quem vive esse compromisso não fica desamparado. O amor de Deus oferece aconchego, refúgio - assim como a galinha, que reúne sob suas asas os seus pintinhos.

Um bispo luterano da India – chamado Johnson Gnanabaranam - escreveu há muitos anos um livro chamado Parábolas do Sul da índia (Uma Nova Dança, S. Leopoldo, Sinodal, 1970). Ele conta que certo dia, estava caminhando no sol quente com dois amigos e conversavam sobre quem é Deus. No caminho encontraram uma sobre fresca debaixo de uma enorme figueira.

De repente mexeram-se os galhos, caíram folhas, e ao olharem para cima viram que naquela árvore morava uma família de macacos. Um pequeno filhote de macaco agarrava-se com seus bracinhos e perninhas em sua mãe, enquanto a mãe saltava de galho em galho.
Um dos amigos falou: O que acabamos de ver explica a minha religião. Deus é como esta fêmea de macaco, o homem como o filhote. O macaquinho não conseguiria saltar sozinho até um galho distante. Por isso, ele se agarra firmemente à mãe e desta maneira ela o leva de galho em galho. A alma do homem por si só não pode alcançar o céu, ela precisa agarrar-se em Deus.

Eles continuaram caminhando pela estrada e mais adiante, eles viram uma gata branca que levava na boca o seu filhote. O outro amigo, de uma outra religião hindu disse: O que acabamos de ver explica a minha religião. Deus é como esta mamãe gata, o homem como o pequeno gatinho. O gatinho não é capaz de encontrar sozinho um lugar seguro. Por isso sua mãe o carrega na boca. A alma do homem por si só não consegue entrar no céu. Deus precisa levá-la ao céu.

Continuaram a caminhada até que chegaram ao pátio de uma casa onde uma tinha uma galinha com alguns pintinhos. Os pintinhos viam sua mãe ciscar a terra e a imitavam. De repente a galinha chamou seus pintinhos. Eles vieram rapidamente e se esconderam sob suas asas. Eles olharam para cima e viram um gavião sobrevoando o pátio. Agora eles sabiam por que a galinha havia chamado os pintinhos. Ai o bispo luterano disse: O que acabamos de ver explica a minha fé cristã. Jesus é como esta galinha e as pessoas, como os pintinhos. Não conseguimos agarrar-nos em Deus com força própria como o filhote de macaco, e Jesus também não leva na marra de um lugar ao outro como a mamãe gata com seu gatinho. Jesus chama as pessoas como esta galinha chamou seus pintinhos. Quem não ouve seu chamado e rejeita sua ajuda, acaba perecendo por sua própria culpa. Quem, porém, ouve o chamado de Jesus e o segue encontra proteção junto dele como os pintinhos sob as asas da galinha.

Jesus se entrega a nós por amor e ele espera que nós também o sirvamos com atitudes de amor entre nós. Jesus, no entanto, nos chama. Ele não nos obriga. Mas ele lamenta e se entristece quando não seguimos o seu chamado. Por isso, Jesus diz: Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como uma galinha ajunta os seus pintinhos debaixo de suas asas, mas vocês não quiseram! (v.34).

E aqui cada um de nós também pode se perguntar:
- Quantas vezes Jesus esteve disposto a nos ajudar, mas nós não quisemos sua ajuda? Quantas vezes Jesus pediu que eu agisse diferente, que fizesse as coisas do jeito de Jesus – e eu continuei fazendo as coisas do meu jeito?
A boa notícia é que – apesar de tudo que já passou - Jesus ainda continua nos chamando.
Da mesma forma, Jesus também tem um propósito para a nossa igreja. A nossa igreja, a nossa comunidade é chamada a ser um espaço de acolhida, de aconchego e de solidariedade. Onde essa acolhida, esse aconchego e essa solidariedade é anunciada e vivenciada, nós poderemos perceber - bem concretamente - que o reino de Deus se tornará realidade entre nós.

Oh, meu Jesus, tu estás diante da porta do meu coração e bates. Tu não entras à força. Com minhas ações não posso agarrar-me a ti, não posso conquistar tua graça. Agradeço-te por teu chamado e teu convite para viver do teu amor e pela proteção debaixo das tuas asas. Amém.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito santo estejam sempre no meio de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 35
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 66355

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É a fé que nos comunica a graça justificadora. Nada nos une a Deus, senão a fé: e nada dele nos pode separar, senão a falta de fé.
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