Estamos no grande ano do Jubileu da Reforma! Nós, luteranos, que no Brasil muitas vezes nos sentimos invisíveis por causa do nosso pequeno número, estamos finalmente em evidência.
Isto porque todos falam da Reforma “Luterana” o que não é bem correto porque os outros reformadores Calvin e Zwingli eram importantes tanto quanto.
O que está trazendo para nos este ano de memórias deste movimento profundo do século 16 que mudou o mundo?
Primeiramente surpreende a força desta memória que conseguiu superar os muros das igrejas e comunidades e penetrou no mundo secular.
Muito bonito também o caráter ecumênico das comemorações. Iniciou com a presença do Papa Francisco na Celebração inicial em Upsala na Sécia e tem sequência aqui no Brasil onde os irmãos católicos quase pedem para serem convidados.
Até aqui, tudo bem mas será que é só isto? O jubileu da Reforma como veiculo de afirmação dos luteranos? Uma oportunidade para uma vez cantar todas as muitas estrofes dos hinos de Lutero? O que ele, Lutero, pensaria a respeito?
Ele seria um grande crítico a este Oba Oba, e nos chamaria para voltarmos a essência dos conteúdos da Reforma para buscar aplicá-las ao nosso mundo de hoje!
Reforma como resgate da emancipação das pessoas através do contato direto com a palavra sagrada. Reforma como movimento de libertação de uma religiosidade repressora. Reforma como movimento de igualdade no Sacerdócio Geral de Todos os Crentes.
Vivemos um momento de grande apatia e indiferença diante da grande crise que o Brasil está vivendo. A espiritualidade da reforma nos chama ao testemunho público a partir dos valores evangélicos!
Vivemos um tempo onde a prática religiosa comercial prolifera para além do imaginável, enquanto igrejas comprometidas com os valores da Reforma lutam por sua viabilidade. A herança da reforma nos chama para sermos cristãos não só na teoria mas comprometidos com a prática comunitária!
Vivemos uma grande crise de liderança com políticos em descrédito e líderes religiosos se autonomeando com toda espécie de título bombástico. Extrair liderança da memória da reforma significa abraçar o jeito democrático de gestar a vontade comum a partir da comunidade e de ser líder como expressão de serviço ao próximo!
Vamos viver a preciosidade do espírito da reforma que nos instiga para uma vida de liberdade libertada: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.” (Gálatas 5,1a)
Wilhelm Nordmann