Zacarias 9.9-10

Prédica

10/12/1972

Zacarias 9.9-10
Advento

É muito provável que as palavras jubilosas do profeta nem cheguem a encontrar entre nós o eco, a resposta correspondente. E em última análise, isso está ligado ao fato mesmo do Advento. Todos nós recebemos o convite para aguardar a vinda de alguém. Todavia, cada um de nós sabe que essa espera está, de uma maneira ou de outra, tanto quanto desloca da. Pois o esperado já veio, já chegou. Por isso mesmo, o Advento resume-se, para a maioria de nós, numa espécie de introdução ao Natal. Espera-se pelo Natal, mas não pelo Rei: 

Por outro lado, a vinda anunciada do Rei faz nascer em muitos uma sucessão de pensamentos sombrios. O raciocínio é mais ou menos o seguinte: o Antigo Testamento promete a chegada do Rei; o Novo Testamento afirma Que ele já veio. E de que serve isso? Desde o tempo de Jesus até nossos dias, o mundo mudou bastante. Isso é incontestável. Mas será que o mundo se transformou? Estaremos nós vivendo novos tempos? Não é um fato que tudo continua como antes? Não é uma realidade que o dinheiro e o poder da força governam o mundo? Não se comprova diariamente que os fracos são esmagados e injustiçados? Assim sendo, qual o valor das palavras de Zacarias para nós, hoje? Aparentemente só existe uma entre duas possibilidades: ou o profeta se refere a alguma coisa que já aconteceu (e nesse caso suas palavras estariam ultrapassadas e fora de moda), ou as palavras proféticas não se cumpriram (com o que estariam bombardeadas—definitivamente). Sim, aparentemente, são essas as duas chances. Mas só aparentemente. Porque de fato, o Advento tem perspectivas bem outras. Não há dúvida de que o Novo Testamento proclama uma noticia constante: Jesus já veio. Resta saber como se deve entender essa vinda, essa chegada, esse Advento. 

Jesus não veio como quem entra casa adentro e passa a estar presente. Se assim fosse, ele seria tão transitório, tão passageiro como todas as coisas palpáveis. Como todos nós - que somos tão concretos e tão transitórios. Jesus só está presente, entre nós, na medida em que confiarmos que ele nos quer ter consigo, para si. A presença de Jesus se realiza no fato de vir ao nosso encontro e de permitir que andemos ao seu encontro. E como isso ocorre sempre de novo, em cada vida, Jesus é realmente aquele que veio, que continua a vir e que virá. 

Em outras palavras: o Advento não é uma realidade eternamente transferida para um futuro que ninguém sabe quando virá. Advento é uma realidade que nos faz ter um futuro. O Advento nos ensina que não temos apenas um passado que nos foi perdoado. O Advento nos mostra que não temos apenas uma atualidade que pode ser vivida na presença de Deus.

Com o Advento nós temos a promessa de um futuro.

E isso é importante, porque futuro não é apenas aquilo que vai acontecer amanhã, em dezembro, no ano que vem. Tudo isso são coisas que passam. Se fosse apenas isso, o futuro não seria mais do que um prolongamento do presente. Assim como as coisas acontecem hoje, acontecerão amanhã. Pronto. Fim. Ponto final. 

Mas futuro é mais do que isso. Futuro é a vinda de Jesus. É um encontro com Ele. Talvez tudo isso pareça esquisito. E é certo que Jesus não será a realização do que mais esperamos. Jesus não será o prolongamento de nossos planos e sonhos. Por outro lado, Ele não e mais uma incerteza, mais uma ansiedade ao lado de tantas outras. Nós sabemos por quem esperamos. Nós o conhecemos. Por isso é que nosso encontro Com Jesus é nosso único futuro certo e garantido. Os males, as catástrofes, as decepções que nos aguardam amanhã, ás eventuais mudanças para melhor, no próximo mês, no próximo, ano, tudo isso nos é desconhecido. Mas a esperança do Advento é concreta: é a esperança depositada naquele a quem já pertencemos! 

Concedo que essa visão bíblica do que seja futuro é bastante diversa da convenção comum, normal, a respeito. O que - em todo o caso é, válido, é isso: a concepção bíblica de nosso, futuro, sem enfeitar a realidade com promessas inúteis e mentirosas, é a única capaz de livrar-nos do medo e preencher-nos de confiança. Porque Deus não costuma dizer hoje sim e amanhã não. Deus já disse sim, de uma vez por todas.. Que significa esse sim? ...Justiça como auxílio. E nós? Vem Ele a nós? 

O poder oculto. 

Se assim não fosse, nossa condição cristã (as tentações e lutas que nunca terminam), o triunfo do poder da força e da injustiça na vida dos povos seriam incompreensíveis. O clamor dos torturados, o esmagamento dos povos, seriam pura e simplesmente provas de que o Evangelho é uma mentira. A conclusão só poderia ser uma: o rei da Bíblia ou não tem poder ou não tem amor. Seu poder, porém, é oculto. (Isso nos leva à seguinte decisão:) 

Confiar naquele que já é rei e que vem. Ou assumir compromissos com aqueles que aparentemente dominam a situação. Aqueles que nos Querem convencer a ser realistas. 

Eis a diferença entre fé e descrença. Fé é fé no Rei! Descrença é a fé nos outros poderes, nos outros poderosos. Fé é par em dúvida o poder dos outros poderes (v. 10). Quais são as consequências medida com os fatos? Não deveríamos estar ao lado da justiça ameaçada, da paz ameaçada, da dignidade humana ameaçada? Apesar dos êxitos incompletos? 

Ele espera por nosso sim!

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Natureza do Domingo: Advento

Testamento: Antigo / Livro: Zacarias / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 9 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23305
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A vida cristã não consiste em sermos piedosos, mas em nos tornarmos piedosos. Não em sermos saudáveis, mas em sermos curados. Não importa o ser, mas o tornar-se. A vida cristã não é descanso, mas um constante exercitar-se.
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