Verdade - Êxodo 32.15-20,30-34

Prédica

28/03/1971

VERDADE

Êxodo 32.15-20 e 30-34 

Juiz de Fora — 28-3-71 — JUDICA

É provável que a vida não esteja fácil, para a maioria de nós. Talvez até esteja se tornando de dia a dia mais difícil! 

Mas ninguém de nós ainda experimentou o sabor da escravidão. O povo de Israel, escravizado e oprimido pelos egípcios, sabia muito bem o que isso significava. 

É por isso que a história da salvação, dessa salvação que temos em Cristo, e só em Cristo, começou há milhares de anos, com a libertação do povo de Israel. Através de sua ação poderosa, Deus conduz seu povo para fora da terra da servidão. E Deus promete que terão sua terra, terra, onde viverão em liberdade. Mais ainda: Deus revela a esse povo sua vontade, através de seus mandamentos. Os mandamentos não são leis. Pelo contrário: os mandamentos nos mostram o terreno, o espaço, o horizonte em que podemos viver como gente, como pessoas humanas. 

No entanto, no momento em que Moisés, o guia e líder do povo, recebe de Deus o documento da aliança com o povo, o documento da vontade de Deus para com esse povo — nesse instante acontece uma coisa estranha. Uma coisa estranha que nós — todos nós — conhecemos muito bem, de experiência própria. 

***

O povo de Israel sente-se grato pelo auxilio de Deus. A religiosidade do povo é até intensa, forte, animada. Uma prova disso é o sacrifício de que todos são, capazes: eles juntam todos os seus recursos, todo o ouro que possuem. E fazem um bezerro de ouro. 

Meus irmãos: 

O bezerro de ouro não era apenas uma imagem. Não era apenas um ídolo. Se fosse só isso, a coisa seria bem mais simples: acesso, ataque de paganismo e idolatria. Pronto. E muitos entre nós poderiam dizer: nada tenho a ver com isso! Eu não adoro ídolos... 

Acontece que o bezerro de ouro pretendia ser uma representação do próprio Deus, único e verdadeiro! Toda a orgia desenfreada que se desenrolou em volta do bezerro tinha a intenção de ser uma festa em homenagem ao Senhor! 

E é nesse ponto que todos nós escorregamos para dentro da história. É nesse ponto que o bezerro de ouro se torna um acontecimento em nossas vidas também. 

Por quê? 

Porque todos nós também nos fazemos uma imagem de Deus, mesmo que seja só em pensamentos, só na imaginação, só na mentalidade

As imagens: Papai do céu. 

Em Deus confiamos. (Banco e dólar). 

Graças a Deus! 

E por que Deus proíbe que se faça a sua imagem? 

1) Porque não se pode reduzir ou reproduzir sua glória. 

2) Porque a imagem de Deus faz mal ao homem. 

Quando a mulher diz ao marido: — Eu não imaginava que você fosse assim — pensei que você fosse diferente... 

É a crise, é a comunhão matrimonial ameaçada. Entre duas pessoas que se pertencem uma à outra, interfere a imagem que uma faz da outra. E essa imagem, que pretende ser a reprodução do outro, mas que acaba sendo só a falsificação do outro (porque idealiza ou torna pior!), essa imagem destrói a união. A imagem torna-se opinião preconcebida! No caso do matrimônio, a comunhão do casal só poderia ser restabelecida, se um escutasse o outro.
E é exatamente esse o problema da imagem de Deus. Nós inventamos um Deus de acordo com nosso figurino. E na primeira crise fica claro que nossa imaginação religiosa só tinha feito um bezerro de ouro... 

Deus não quer uma imagem, para que aprendamos a ouvir sua palavra. E tanto isso é fundamental, que muita gente ouve sermões uma vida inteira — e tem uma opinião completamente falsa a respeito de Deus. A imagem que inventaram para si mesmos tornou-os incapazes de ouvir a palavra. — e conhecer o único Deus verdadeiro! 

* * * 

Mas cuidado! Ninguém imagine que está isento desse perigo! E mesmo que alguém estivesse completamente livre da falsa imagem — resta saber qual é a atitude que tomamos em relação aos que ainda estão enganados, equivocados, confusos .ou Iludidos a respeito de Deus. 

* * *

Moisés tem a liberdade e a coragem de dizer muito claramente a seu povo o nome que se dá a tudo aquilo que aconteceu. Agora, Moisés não se distancia do seu povo. Moisés não se afasta com superioridade e orgulho. Moisés faz algo bem diferente: ele intercede por seu povo, na presença de Deus — ele se solidariza com os irmãos — sim, e se o castigo for a morte, Moisés prefere morrer com o seu povo, do que continuar vivo, mas sozinho... 

Deus ouve a intercessão. Deus ouve e atende à oração em favor do povo. Só o sacrifício de Moisés não é aceito. Porque nenhum homem pode assumir a culpa de outro — e ninguém pode morrer no lugar de outro. Culpa, castigo e morte ficam transferidos por Deus. Apesar de tudo, Deus mantém sua promessa: o povo terá a terra prometida. E Moisés o guiará. 

***

Mas o dia do castigo chegou. Um dia chegou a hora de punir o pecado com a morte. O que nenhum homem podia assumir sozinho, o que ninguém podia fazer pelos outros — Deus mesmo assumiu, no lugar de todos. A Cruz de Cristo é essa última prova de solidariedade total e de intercessão total. E é por isso que a cruz de Cristo é a única imagem de Deus verdadeiro. Essa imagem pode e deve substituir todas as outras, em nossos pensamentos e corações. Amém.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: 5º Domingo na Quaresma
Testamento: Antigo / Livro: Êxodo / Capitulo: 32 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 34
Título da publicação: Ressurreição - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1973 / Volume: Suplemento Número 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22271
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O verdadeiro cristão não vive na terra para si próprio, mas para o próximo e lhe serve.
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