Trânsito! Responsabilidade de todas as pessoas

01/12/1997

Trânsito! Responsabilidade de todas as pessoas

Erich Orlando Hoeller

As assustadoras estatísticas da violência no trânsito, têm preocupado muitos segmentos da sociedade. Vários estudiosos do problema trânsito apresentam suas conclusões e preocupações, como: impunidade e o desleixo das autoridades.

As atuais leis são falhas, e as penalidades aplicadas aos infratores e delituosos do trânsito não são condizentes com a gravidade das infrações ou dos delitos praticados. Existe a tese de que nos países de Primeiro Mundo os motoristas são disciplinados nas ruas e estradas porque as punições são severas. O novo Código de Trânsito, mais moderno e mais punitivo, tramita no Congresso Nacional desde 1994 e ainda não foi aprovado.


Despreparo dos motoristas

Todo motorista quando assina sua Carteira Nacional de Habilitação está assinando um documento onde ele afirma que conhece o Código Nacional de Trânsito e sabe dirigir um veículo com segurança e tem por obrigação cumprir as leis de trânsito. Na realidade isto não acontece. Também o curso de direção defensiva deveria ser ministrado nas auto-escolas.

Numerosas campanhas educativas de trânsito foram e continuam sendo promovidas pelas autoridades. Mas o resultado nunca atinge o esperado. Estas campanhas não atingem a todos, pois mudar o comportamento de pessoas adultas é difícil. Todavia se estas campanhas não existissem, as tragédias seriam em numero maior ainda.

A educação para o trânsito nas escolas é a esperança de, no futuro, o trânsito ser melhor. Aposta-se que as crianças de hoje serão os motoristas de amanhã, quando iniciadas nesta questão. Infelizmente, muitas escolas em nosso país não adotam educação para o trânsito como matéria para seus alunos.

Veículos envenenados e mal conservados

Os grandes causadores de acidentes são os veículos mal conservados, sem condições de segurança. Os proprietários desses veículos ignoram o risco que estão correndo e que estão sujeitos a envolver outras pessoas que estão trafegando na mesma via pública.

Existem também veículos com suas características alteradas, onde o motor é modificado para ser mais potente. Ou então quando é rebaixada a suspensão do veículo. Estas modificações são também conhecidas como envenenamento. Estes veículos são verdadeiras máquinas mortíferas. Eles são usados preferencialmente por jovens para competir nas ruas, procurando promover espetáculos conhecidos como pegas ou rachas. Estes espetáculos já causaram grande número de mortes e mutilações. Muitos pais têm sua parcela de responsabilidade nestas situações, pois estes motoristas são de menor, são adolescentes.

Preocupações

Economistas estão preocupados com os elevados custos dos acidentes, com os enormes prejuízos causados pelos danos materiais dos veículos, com o imenso montante de despesas hospitalares no atendimento às vítimas de acidentes, com as pensões pagas às pessoas que ficam inativas e param de produzir. Estas preocupações podem ser consideradas incoerentes, frente ao elevado número de mortes e de pessoas que ficam mutiladas sofrendo para o resto da vida. A dor das famílias enlutadas não tem preço. Portanto, esta deve ser a preocupação maior. Estas vidas são ceifadas sempre pela imperícia e imprudência de pessoas irresponsáveis.

Trânsito é uma responsabilidade de todos nós! Não temos o direito de tirar a nossa vida e a do nosso semelhante através de um acidente de trânsito, porque a vida é um dom de Deus. Quando dirigimos devemos refletir sobre isto.

O dever do cristão é ser disciplinado no trânsito e colaborar para que o trânsito se tome cada vez mais humano. Muitos motoristas esquecem as suas responsabilidades e se transformam quando dirigem um carro. Alguns mudam até de personalidade, ficando mais violentos, agressivos, esquecendo o amor e o respeito ao próximo. E isto é motivo de preocupação.

Causas de acidentes

Acidentes não acontecem por acaso. Sempre são provocados, e diversas são suas causas, como: velocidade, desrespeito aos sinais de trânsito, veículos com defeitos, condições das vias públicas, condições de tempo, condições físicas e psicológicas, bebidas alcoólicas, drogas, ingestão de medicamentos, ultrapassagens indevidas, distância de segurança.

Como evitar

Todas as pessoas têm responsabilidade na prevenção de acidentes. Evitar acidentes é possível através da direção defensiva, isto é, dirigir de modo a evitar acidentes. Apesar das ações incorretas dos outros e das condições adversas, o motorista defensivo abre mão dos seus direitos e preferências em favor da segurança.

Condições adversas — luz natural e artificial podem afetar a nossa condição de ver e sermos vistos. Normalmente estes fenômenos ocorrem através de ofuscamento da luz do sol em sentido oposto, luzes, faróis de outros veículos, reflexos de pára-brisas, espelhos, latas e garrafas. Com a visão ofuscada é importante voltar a visão para o acostamento ou calçada do lado direito, de maneira a ver o local onde o veículo deve trafegar. Na penumbra, no anoitecer ou amanhecer, manter as luzes acesas, para ver e ser visto.

Tempo — chuva, vento, granizo, neve e neblina diminuem a nossa capacidade visual, causando a dificuldade de ver e ser visto; as ruas e estradas ficam mais inseguras por ficarem escorregadias. Nestas condições deve-se diminuir a marcha e acender as luzes. Se as condições estiverem muito ruins, pare o veículo fora da estrada e espere as condições melhorarem.

Rua ou estrada — devemos ajustar-nos às condições da via, plana em aclive ou declive, tortuosa ou reta, lombadas, piso escorregadio ou com buracos. Essas condições podem nos surpreender. Dirigir atentos nestas situações é fundamental.

Trânsito — condições de trânsito têm a ver com a presença de outros usuários nas ruas e estradas, interferindo no comportamento dos condutores de veículos. A velocidade compatível pode ser alta ou baixa de acordo com o tráfego fluindo normalmente o congestionado.

Nas áreas rurais, as condições de trânsito são alteradas por veículos lentos, como: caminhões carregados, máquinas agrícolas, carroças e animais soltos. Nestas situações deve-se diminuir a velocidade com antecedência, dar sinal ao motorista que vem atrás para que ele também diminua.

Nos centros urbanos, além dos veículos estacionados, a atenção deve estar voltada para os pedestres, ciclistas e motocicletas. Deve-se passar por eles em distância segura.

Motorista — o motorista também está incluído na condição adversa, através de seu estado físico ou mental, como: condições físicas, visão deficiente, fadiga, estado alcoólico, perturbações físicas. Condições mentais: medo, preocupações, estafa, desequilíbrio emocional.

Princípios básicos

Dirigir preventivamente é: prever o perigo, descobrir o que fazer e agir em tempo (ver, pensar e agir). É importante fazer um preparo mental antes de sair com o veículo. Ligue o motor e indague a si mesmo, como está, a condição do tempo, as condições do veículo, a sua condição física e mental (cansado ou descansado, calmo ou perturbado), se não está tomando medicamento que poderá afetar a habilidade de dirigir. Coloque o cinto de segurança e, se estiver em condições de dirigir, siga.

Regras para trafegar com segurança

* Distância de segurança — não existe legislação que trate deste assunto, mas há maneira bastante simples de calcular esta distância. Ela permite parar sem chocar-se com a traseira do veículo da frente, caso este pare repentinamente. Exemplo: usa-se como ponto de referência, poste, árvore, cartaz, placa, etc. Quando o veículo da frente passar por um destes pontos, contar pausadamente cinqüenta e um, cinqüenta e dois, se o veículo de trás chegou no ponto de referência após, o termino desta contagem, está a uma distância segura.

* Fila de veículos parados em semáforos ou congestionamentos — parar sempre na distância em que possa enxergar os pneus do veículo da frente tocando no chão.

* Em obras e rodovias — aumentar esta distância para que possa desviar do veículo da frente em caso de colisão traseira, manter os sinais alerta (pisca-pisca) ligados e ficar atento ao veículo que vem atrás.

* Aguaplanagem ou hidroplanagem — causada por pavimento molhado e poças d'água, onde o veículo facilmente patina ou derrapa. Nestas situações é necessário reduzir a velocidade. Não lavar o veículo em poças d'água, elas podem causar acidentes em dias de chuva.

* Colisão com o veículo de trás — para evitar esta situação, livre-se do veículo que segue à curta distância, incentivando-o a ultrapassar, reduzindo a velocidade ou saindo para o acostamento. Nos dias de chuva, planeje seus deslocamentos ou viagens com mais tempo.

* Colisão com o veículo da frente — causada por ultrapassagem. Quando existe situação de perigo, desviar para o acostamento e dar sinal de que está saindo para que o outro saiba e não venha na mesma direção.

A arte de ultrapassar

Quando houver necessidade de ultrapassar, obedeça os seguintes itens:

1) Mantenha distância de segurança, não se aproxime demais do veículo a ser ultrapassado.

2) Se houver dificuldade de visualização, aproxime-se da linha divisória da pista e verifique o trânsito em sentido contrário, não esquecendo os veículos de trás.

3) Identifique a distância entre o seu veículo em sentido contrário, com os veículos trafegando em uma velocidade média de 80 km/h, há necessidade de um espaço mínimo de 700 metros para ultrapassagem.

4) Observe os veículos que vêm de trás antes de iniciar a manobra.

5) Sinalize suas intenções.

6) Saia para a pista da esquerda, acelerando o veículo, à medida que vai ultrapassando.

7) Se achar necessário, de um leve toque na buzina.

8) Sinalize a sua intenção de retornar à pista da direita.

9) Entre na pista da direita, após observar o farol esquerdo do veículo, que está ultrapassando, através do espelho retrovisor interno do seu veículo.

10) Retorne à velocidade normal assim que completar a ultrapassagem.

A arte de ser ultrapassado

1) Mantenha-se à direita.

2) Domine a situação: verifique o trânsito na retaguarda e no sentido contrário.

3) Sinalize e avise se há condições de ultrapassagem.

4) Reduza a velocidade quando houver necessidade de facilitar a ultrapassagem e de dar espaço na sua frente, para que o outro possa voltar a sua mão de direção.

* Curvas — diminuir a velocidade antes da mesma e acelerar suavemente ao fazer a curva, para que a força motriz compense os efeitos da força centrífuga. Curva à direita, mantenha o veículo mais próximo do acostamento. Curva à esquerda, mantenha o veículo mais próximo do centro a pista.

* Cruzamentos — nunca confiar somente na preferencial. Fique atento na atitude do outro, que também está cruzando ou vai cruzar. Troque a preferência pela segurança. É importante lembrar que um veículo a 50 km/h, precisa de 22 metros de distância para parar totalmente. Sinalize sempre indicando o lado que vai dobrar e posicione o veículo na faixa certa. Planeje antes o trajeto.

* Pedestres — merecem uma atenção do motorista. Todo o motorista tem por obrigação respeitar a faixa a eles destinada. Nesta área os pedestres têm preferência. Alguns pedestres deixam a faixa e atravessam a rua entre os veículos, fique atento aos pedestres do lado da rua querendo cruzá-la.

Como cristãos, devemos respeitar de uma maneira especial: crianças, idosos e deficientes físicos. Estes estão mais sujeitos à atrop-lamentos. Pedestres têm sempre preferência. Dê passagem a eles e durma tranqüilo.

Bom motorista

O bom motorista dirige defensivamente! Há pessoas que acham que o bom motorista é aquele veloz e ágil, que ultrapassa, ziguezagueia no meio do trânsito para chegar antes dos demais. E este, muitas vezes, tem um final trágico.

Chegar ao destino são e salvo sem atingir a integridade das pessoas e a sua própria, é dever de todos os motoristas. Faça uma revisão de sua conduta ao volante em situações de emergência. Dirigir com perfeição, significa cada viagem...
... sem acidentes
... sem infrações
... sem abusos do veículo
...sem faltar com a cortesia devida, isto é, sem cometer erros.


O autor é membro da IECLB, patrulheiro rodoviário federal aposentado e membro da Comissão Comunitária para Humanização do Trânsito de Joinville, SC


 Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998


Autor(a): Erich Orlando Hoeller
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Título da publicação: Anuário Evangélico - 1998 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1997
Natureza do Texto: Artigo
ID: 33104
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