Subsídios para pensar e desenvolver a pregação para o Culto da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência 28 de agosto

01/08/2016

Subsídios para pensar e desenvolver a pregação
para o
Culto da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência
28 de agosto
 

Pela graça de Deus, livres para cuidar da família.
Lucas 14.1-14

Sobre o texto de Lucas existem alguns cadernos da série Proclamar Libertação que podem ajudar na exegese. Sugerimos que seja feita a leitura dos versículos 1 a 14.

Jesus é convidado e entra na casa de um fariseu de muito prestígio para comer num sábado. Também estão ali outras pessoas, inclusive intérpretes da lei e fariseus. Entre os presentes há alguém que tem as pernas e braços (e/ou também barriga) inchados. Uma moléstia conhecida como hidropsia. Do grego hydrõpikos, cheio de água. Um sinal de doença do fígado, coração ou dos rins. In: O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.

Ao entrar na casa, Jesus é observado com atenção. Olhares curiosos e desconfiados ou, quem sabe, espantados. O que ele fazia ali? Certamente a presença de Jesus no meio de pessoas que sempre buscavam uma forma para condená-lo era de se estranhar. Por que ir à casa de hipócritas, comer com eles? Estaria armando alguma coisa? Ou será que estava de conluio com eles? No meio do caminho, na sua frente, estava um homem hidrópico. Jesus olhou para os escribas e fariseus e dirigiu a pergunta a eles: É ou não é lícito curar no sábado? Porém não obteve resposta deles. Então Jesus, segurando o homem pela sua mão, curou-o e o despediu/mandou embora. Fez nova pergunta a eles e também não obteve resposta.

O encontro continua nos versículos que seguem, e percebe-se que a modéstia, humildade e simplicidade parecem não fazer parte dos costumes desse grupo. Cada qual procura os melhores lugares à mesa. Isso incomoda Jesus! Lembrando um antigo provérbio, ele recorda: “Quando você estiver diante das autoridades, não se faça de importante. É melhor que depois lhe deem um lugar de honra do que você ser humilhado na presença das autoridades” (Pv 25.6-7).

Adverte o anfitrião que, ao convidar alguém, não convide os seus patrícios que, cedo ou tarde, poderão lhe retribuir o favor. Antes, pelo contrário, convide aqueles que, na visão de Jesus naquele contexto, não terão como retribuir o favor. Quem são? São as pessoas pobres, aleijadas, coxas e as cegas. Segundo Jesus, pessoas que nesse contexto não têm como retribuir, pois estão à margem, excluídas, distantes. “A tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos.”
Jesus insiste para que as pessoas marginalizadas sejam convidadas. Ele deseja que todas façam parte do convívio, do aprendizado, da vida em comunidade. Sem as pessoas com deficiência, as crianças, as pessoas pobres, as pessoas idosas, sem as pessoas marginalizadas de modo geral, não existe verdadeira Igreja. Não existe verdadeiro testemunho e CUIDADO com a família. Pois Deus nos liberta para vivermos e cuidarmos bem uns dos outros, umas das outras.
Pela graça de Deus somos livres para cuidar. Cuidar do mundo, a criação de Deus; da fauna, da flora, das pessoas, nossos filhos e filhas, nossa família. Livres para cuidarmos uns dos outros, umas das outras. Que esse culto nos ajude a refletir sobre como estamos cuidado da nossa família, nosso pai e mãe e nossos filhos e nossas filhas.

Sobre o tema proposto: Pela graça de Deus, livres para cuidar da família.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência definiu como lema a frase “Nada sobre nós sem nós”. Desejamos que este lema também seja a base para planejar o trabalho com pessoas com deficiência em nossas comunidades.

Partilhamos algumas considerações:

* Função evangelística do ser diferente;

Tudo o que é diferente causa estranheza, desconfiança e até mesmo medo e rejeição. Por vezes, as pessoas com deficiência costumam provocar reações inusitadas nas outras pessoas. Elas normalmente causam algum tipo de impacto. Quando essa “força impactante” é canalizada para ações concretas de inclusão e amor, buscando estabelecer um diálogo construtivo, então, acredito que as pessoas com deficiência se tornam evangelistas e missionárias dentro do seu contexto. Nesse sentido, ter essas pessoas e seus familiares envolvidos no processo contínuo de ser comunidade viva e integral é fundamental. A frase: “Nada sobre nós sem nós” deixa bem claro o caráter dessa afirmação. As ações sempre devem ser pensadas junto com as pessoas e a partir delas. Nunca sem elas.

Mas como fazer isso se temos que cumprir os rituais rígidos já perpetuados dentro de uma sociedade que é pensada geralmente para pessoas sem deficiência? As pessoas com deficiência atrapalham, tiram do ritmo... Por vezes não seguem o protocolo, quebram regras, dispersam a atenção das outras pessoas e, além do mais, requerem uma série de adaptações nos espaços físicos e também mudança na atitude das pessoas, etc.

* Rotina da família:

Sobrecarga; consultas médicas, terapias (fono, físio, hidro, TO, psico, etc.). Além de, em muitos casos, o pai e a mãe, ou um deles, ter que trabalhar fora de casa. Dependendo do tipo de deficiência e das limitações físicas, são necessários cuidados constantes, como troca de fralda, alimentação na boca, dar banho, interpretar aquilo que a pessoa tenta dizer quando ela não se comunica de forma convencional, etc.
- Consultas e atendimentos longe da sua cidade. Nessa situação, ainda depender do SUS, ter que fazer viagens cansativas. Sair de madrugada para ir a outras cidades e esperar o dia inteiro para ser atendido. Voltar somente outro dia para casa. Isso sempre junto com a pessoa com deficiência, que muitas vezes está cansada e não quer estar nesses lugares e esperar todo esse tempo. Isso faz parte da rotina. Além de ter que enfrentar o olhar das pessoas estranhas que, muitas vezes, causa desconforto e mal-estar à família toda.

- Perder a privacidade da família. Contratar alguém para ajudar a cuidar da pessoa com deficiência ou dos afazeres domésticos é o mesmo que perder a privacidade. Muitas famílias não gostam de ter pessoas estranhas dentro de casa observando a sua rotina. Esse medo de se sentir vigiado e controlado por pessoas estranhas é o que faz com que muitas famílias optem por não ter empregados/as para cuidarem de seus filhos com deficiência. Além do mais, muitas famílias têm dificuldade na hora de contratar cuidador/a. Algumas pessoas até tentam, mas depois de alguns dias ou meses alegam que não poderão mais continuar trabalhando. Os motivos que alegam são muitos, todavia, sabemos que a razão é a dificuldade ou incapacidade de aprender com quem é diferente ou estar aberto ao convívio. Como família, não temos alternativa; precisamos conviver, aceitar, cuidar. Mas, muitas vezes, também não estamos bem emocionalmente. Aí entra o papel da Igreja. Ela tem a missão de auxiliar, cuidar, proporcionar formação e capacitação para que, por alguns momentos, a família possa descansar, enquanto que seu filho, sua filha, familiares com deficiência estejam inseridos em grupos na Igreja ou sociedade.

Será que não temos aqui uma vinculação direta ao compromisso assumido no dia do Batismo? Quando diante de Deus e da família dizemos: Sim, com o auxílio de Deus! Qual é a graça que permeia nossa ação evangelística a partir do Batismo?

Exemplos de inclusão que têm dado certo:

Dependendo do tipo de deficiência, a pessoa necessita de monitoria constante. Não pode ficar sozinha nem por poucos minutos. Nesses casos, ela precisa de alguém sempre ao seu lado, incentivando, orientando e cuidando. Isso em casa, na escola, na igreja ou qualquer lugar que desejar ir. E, sim, elas têm vontade de sair, conhecer lugares novos, pessoas, etc. Quem pode acompanhá-las? Claro que a família em primeiro lugar! Mas será que sempre precisa ser a família? Poderíamos pensar em “formação/capacitação” para pessoas serem monitores/as, cuidadores/as em alguns momentos quando essas pessoas estão inseridas em algum grupo?

Como reagiriam as pessoas e a família caso esse CUIDADO de monitoria fosse oferecido? A família também precisa aprender a confiar na equipe de monitores/as e cuidadores/as. Sem essa confiança o trabalho não irá prosperar.

Quem tem filhos/as independentes os/as deixa na porta da escola/igreja e vai para o trabalho ou para casa tranquilo. Mas e quem tem um filho, uma filha com deficiência que necessita de auxílio físico pode fazer assim também? Os líderes do grupo cuidam daquela pessoa com deficiência sozinhos? Eles conseguem dar alimento na boca, entendem os gestos de quem não fala ou não escreve? Quem troca a fralda ou leva ao banheiro se for preciso? Por isso é preciso conviver com essas pessoas e aprender junto com essas famílias.

Nosso filho Pedro tem paralisia cerebral. Pedro tem seu cognitivo preservado. Sabe o que quer e o que não quer. Sabe se expressar e defender suas opiniões. Está na sétima série do ensino regular, faz o ensino confirmatório, participa do grupo de artes e teatro da comunidade, e ele e um amigo da mesma idade coordenam um pequeno grupo de estudos bíblicos, entre outras atividades regulares. Talvez você esteja se perguntando: Sim, mas você disse que ele tem paralisia cerebral?! Como ele consegue fazer tudo isso? Verdade, Pedro tem limitações também. Não fala, não caminha sem auxílio, precisa de prancha de comunicação alfabética, auxílio para ir ao banheiro e para fazer as refeições. Necessita de alguém que o monitore todo o tempo.

Quem faz isso junto com ele quando o pai e mãe não estão presentes? Seus amigos ou os líderes dos grupos, que buscam auxiliares. Na escola, ele tem monitor (pessoa que o ajuda a realizar aquilo que o seu corpo não lhe permite fazer sozinho estimulando sua autonomia).

Pedro “está sempre a mil”. Já pensou como seria triste se, na nossa comunidade e paróquia, não houvesse pessoas que cuidassem dele nesses momentos em que ele está nos grupos, longe do pai e da mãe? Como ele se sentiria se não pudesse participar? Creio que através da sua inserção e inclusão nesses espaços, por vezes sem a família, ele está tendo a oportunidade de exercitar sua plenitude como pessoa. Além do mais, creio que nesse convívio acontece a evangelização através do amor, cuidando de toda a família.

E na sua comunidade e grupo existem pessoas que poderiam monitorar uma pessoa com deficiência durante um encontro ou uma atividade? Creio que a família iria se sentir muito feliz vendo seu filho, sua filha sendo amado de verdade. Creio ser esse um gesto de amor e cuidado que irá transformar sua vida e comunidade.


P. Vilson Hining e Diác. Sônia Hining
 


Autor(a): P. Vilson Hining e Diác. Sônia Hining
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia / Subnível: Missão - Diaconia - Pessoa com Deficiência
Área: Missão / Nível: Missão - Família
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Semana Nacional da Pessoa com Deficiência / Ano: 2016
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 39002
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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
Martim Lutero
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