Sobre hospitalidade e justiça de gênero

Prédica

14/07/2022

Lucas 10.38-42 e Gn 18.1-10a


Prezada Comunidade

Hoje os textos bíblicos falam da hospitalidade e sobre a justiça de gênero. Vamos começar falando sobre a hospitalidade: O que vocês fazem em casa quando recebem uma visita surpresa?
(abrir a porta, limpar o sofá para a visita sentar, preparar um café, vão até a cozinha para dar uma olhada se tem algo para preparar um lanche ou o almoço, ....).
Na tradição judaica, receber bem os viajantes e os peregrinos, dar-lhes um momento de descanso, oferecer-lhes alimento – isso fazia parte dos 613 mandamentos da Torá dos judeus. Para que um viajante israelita fosse tratado com hospitalidade pelos seus compatriotas, bastava chegar no povoado e sentar-se na praça pública da cidade e esperar um convite. Sodoma e Gomorra são conhecidas como as cidades de pecado. Elas ficaram famosas por causa do homossexualismo, mas – na verdade - o que diz Gênesis capítulo 19 é que o maior pecado delas era tratar mal os visitantes.

Conta-se também que Abrão era uma pessoa muito hospitaleira. São várias as histórias e lendas que nos falam da hospitalidade de Abrão. Por exemplo, em uma das histórias - que não está na Bíblia - certo dia Abrão encontrou um viajante que lhe pediu comida. Abrão o convidou para almoçar em sua casa. Sara servia boa comida. Antes de comer. Abrão quiz agradecer a Deus pelo alimento, mas o viajante não quis ouvir nenhuma oração. Ao contrário, interrompeu a Abrão dizendo:
- Esse negócio de Deus é pura invenção. Deus não existe. Eu não preciso de Deus para nada. Tem gente que fala das bençãos de Deus. Bobagem. Deus não dá nada para ninguém. É tudo conversa.
E assim o viajante blasfemava e xingava a Deus. A uma certa altura, Abrão não aguentou mais e expulsou aquele homem de sua tenda.
Todas as noites, Abrão falava com Deus. E naquela noite Abrão mencionou para Deus a falta de fé e as blasfêmias daquele viajante. Disse também que o havia expulsado de sua tenda, por não aguentar mais suas blasfêmias. Ao que Deus respondeu:
- Abrão, Abrão. Precisas ter mais paciência. Eu venho aguentado as blasfêmias desse homem há muitos anos e tu não conseguiste aguentá-lo nem uma hora?

No texto do livro de Gênesis capítulo 18.1-10ª, ouvimos que Abrão recebe a visita de 3 pessoas. Quando Abrão vê que eles estão cansados, convida-os para que fiquem em sua casa para lavar os pés (equivalente hoje a tomar um banho) e alimentar-se e dormir algumas horas antes de continuar sua jornada. Como recompensa por sua generosidade, Abrão e Sara recebem a promessa de que dentro de um ano eles terão um filho. Quando se é generoso, então as promessas de Deus se cumprem em nossa vida. E é por causa dessa história que no NT a carta aos Hebreus 13.2 diz: “Não deixem de ser hospitaleiros e de receber bem os que vêm à casa de vocês, pois alguns de vocês, sem saber, já receberam anjos”. Portanto, a hospitalidade era um dever sagrado para todo judeu. As pessoas, as cidades e os governos eram julgados pelos profetas por essa Lei. Por isso, deixar pessoas com fome e dormindo na rua era uma ofensa a Deus. Ver o sofrimento dos outros e não fazer nada, era um desrespeito a Deus.

Hoje nós dizemos: “Ah, mas tem muita gente dormindo na rua (aqui em Curitiba são milhares), e eu não posso levar todo mundo lá para casa”. É justamente porque ações individuais não resolvem o problema, é que existe o governo/estado. A função do governo é agir onde ações individuais não dão conta. Nós fazemos nossa parte com o grupo Diaconia com as marmitas semanais para as pessoas em situação de rua. Mas, é uma ação limitada. Não damos conta de atender ou resolver o problema da falta de comida para todas as pessoas. Isso só pode ser resolvido por ações do estado.
Também o texto do Evangelho nos fala hoje de uma visita que Jesus fez à casa de Marta e Maria e da hospitalidade que ele teve nessa casa. As duas irmãs tem um irmão, chamado Lázaro, mas parece que nesse dia ele não estava em casa. No entanto, Marta e Maria sabem muito bem o que manda a Lei de Deus sobre como tratar as visitas. Uma visita deve ser bem atendida. Por isso, Marta vai logo para a cozinha preparar algo de beber e de comer. Há muitas coisas para fazer em função dos hóspedes que são Jesus e seus 12 discípulos. Era preciso buscar água para lavar os pés deles e preparar comida para que eles se alimentassem. E Marta estava sozinha. Maria estava na sala, conversando com Jesus.

Quando a gente tem muitas coisas para fazer - e ninguém ajuda - então começam a brotar os pensamentos de revolta dentro de nossa cabeça. “Pôxa vida, eu aqui me ralando e Maria ali numa boa, dando gargalhadas. Jesus bem que poderia mandar Maria vir me ajudar. Mas Jesus parece que nem se importa. Não é ele que fala tanto em ajudar ao próximo?, A revolta vai crescendo dentro de Marta, até que ela explode e entra na sala. E a explosão de Marta se dirige contra Jesus: “Pôxa vida, Jesus! O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo o trabalho? Mande que ela venha me ajudar” (v. 40).

Quando falamos de tarefas dentro de casa, muitas mulheres dizem: “O problema não é cozinhar e lavar a louça, o problema é cozinhar e lavar a louça sozinha. O problema não é limpar a casa, lavar e passar a roupa. O problema é ter que fazer tudo isso sozinha e não ser reconhecida e nem valorizada. Como se fosse obrigação da mulher. Se houvesse cooperação dentro de casa, o trabalho de casa não seria um problema. O problema é quando se entende que o trabalho de casa é coisa só de mulher”. Quantos conflitos em casa poderiam ser evitados se houvesse cooperação ou pelo menos divisão nas tarefas da casa? Por isso, Jesus entende que Marta tem razão, que a falta de cooperação tira a paz de qualquer pessoa e torna o trabalho ainda mais difícil.

Mas o texto do Evangelho nos diz que Marta não quer apenas a cooperação de Maria. Marta quer que Jesus assuma a sua função patriarcal e mande Maria ajudá-la. Jesus era o homem da casa naquele momento. Segundo a cultura daquela época, Jesus deveria ter mandado Maria para a cozinha para ajudar a sua irmã.

Marta pensa que um homem deve ter autoridade sobre as mulheres e sem um homem que mande em casa, as coisas não funcionam. Essa é a estrutura patriarcal – que está presente na cabeça da Marta e de muitos homens e mulheres ainda hoje. Ainda hoje muitas pessoas pensam que para resolver os problemas, os homens precisam exercer mais sua autoridade.

Mas Jesus não concorda com esse pensamento. Para Jesus o trabalho de Marta é importante e deve ser mais valorizado. Nisso Marta tem razão em reclamar. As tarefas de casa devem ter mais cooperação da família. Para Jesus, a chave está na cooperação, não no exercício da autoridade masculina.
Não se trata de ter um homem mandando e mulheres trabalhando, mas sim de ter homens e mulheres cooperando e ajudando.
Portanto, da leitura da Palavra de Deus de hoje podemos levar três coisas importantes:

1. Ser hospitaleiro, preocupar-se com o bem estar dos outros deve ser uma parte importante de nossa fé. E quem pratica a hospitalidade, quem tem o coração sensível para as necessidades dos outros - sem saber - já serviu a anjos.

2. Jesus nos falou hoje sobre a justiça de gênero. Isso é, quando assumimos as responsabilidades em conjunto, homens e mulheres, em todos os âmbitos de nossa vida, libertamos muitas “Martas” afogadas pela correria solitária para dar conta de tantas tarefas. Quando o trabalho nos tirar a paz, então é preciso parar e conversar. Se não fizermos isso, então pode contar, uma hora a bomba vai explodir. Hoje já estamos bastante avançados nesse tema da cooperação dentro de casa. Onde isso ainda não acontece, onde ainda não se fala em igualdade de direitos para homens e mulheres, onde não se fala em justiça de gênero, então é preciso começar.

3. E um terceiro ponto importante é que – além dos cultos é importante ter lugar para Jesus também em nossas casas, nos encontros de estudos bíblicos, onde se conversa sobre a Palavra de Deus.

Senhor, mais uma vez tu nos deste a tua Palavra.

Dá-nos também um coração aberto para recebê-la e praticá-la. Amém.

Oracao final:
Deus de amor, a história da hospitalidade de Abrão e Sara e a visita de Jesus as irmãs Marta e Maria nos querem ensinar a viver a tua vontade. A mensagem do teu Evangelho tem transformado muitas pessoas em pessoas melhores, mais acolhedoras, mais tolerantes, mais compassivas. Transforma também os nossos coracoes e mentalidades. Ajuda-nos a olhar para a atitude corajosa e desafiadora das pessoas que ainda hoje lutam pela justiça de gênero  e onde as diferenças são vistas e tratadas como riqueza de tua boa criação.

Senhor, Tu também conheces muito bem nossas preocupações pessoais. Através de um momento de silencio, queremos agora colocar esas preocupações em tuas maos, através de nossa oracao individual.
……..
Ouve, Senhor, a nossa oração e se for de tua santa vontade, atende as nossas súplicas.

Pai nosso, que estás nos céus. Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje, e perdoa as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações / Organismo: Capela Luterana
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 38 / Versículo Final: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 67580
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