Estimados irmãos e irmãs:
Tem uma lenda muito antiga que diz que no momento em que uma mulher engravida, Deus coloca um anjo para acompanhar a essa mulher e a formação da criança em seu ventre. Dizem que esse anjo fica falando com o bebê em formação. Vai ensinando a esse bebê sobre o que é certo e o que é errado. É por isso que toda pessoa, mesmo sem seguir nenhuma religião, toda pessoa sabe o que é certo e o que é errado. Quando ela faz uma coisa errada, ela se dá conta disso. E na maioria das vezes fazemos coisas erradas, coisas que gostaríamos de não fazer. Algumas dessas coisas conseguimos remediar, conseguimos modificar. Outras não. Não conseguimos mais mudar nada. E isso nos incomoda profundamente.
O apóstolo Paulo nos quer falar hoje sobre a importância da fé em Deus para a nossa paz de espírito. E ele começa dizendo claramente: Nenhum ser humano é bom por natureza. A gente sabe o que é bom, mas a gente faz o que é mau. As sementes do egoísmo, da arrogância, da prepotência já nascem conosco. Se o anjo de Deus nos ensinou a diferença entre o bem e o mal, um anjo do mal também passou pelo ventre de nossa mãe e semeou em nosso coração a semente do pecado. Portanto, o ser humano nasce com essas duas sementes: a semente do bem e a semente do mal. Nós vamos crescendo e junto conosco crescem também essas sementes. E sem ouvir a Palavra de Deus, sem viver numa comunidade cristã, a tendência na - maioria das pessoas - é que a semente do mal cresça mais depressa e produza mais frutos. Claro que há algumas exceções. Nem todas as pessoas que ouvem a Palavra de Deus e vivem em comunidade são pessoas boas. E nem todas as pessoas que não cristãs são pessoas más. Mas a maioria das pessoas somos assim. Sem a Palavra de Deus, fazemos o que é mal, porque essa é a nossa condição humana. Já nascemos assim.
Martim Lutero procurou explicar isso dizendo que nós somos como um mula. Nós andamos conforme a orientação do cavaleiro. Nós não temos vontade própria. O que fazemos é determinado por Deus ou pelo Diabo. Para Lutero nós não temos Livre-Arbítrio, mas sim vivemos na condição de Servo-Arbítrio. Estamos sempre sob o domínio do Bem (de Deus) ou do Mal (do Diabo).
O Apostolo Paulo nos lembra no texto de Romanos que não basta apenas nossa decisão por querer ser boas pessoas. Essa nossa disposição em dizer que daqui para frente vamos ser pessoas melhores – isso dura tanto quanto um voo de galinha. Em pouco tempo estaremos fazendo coisas que não gostariamos ter feito. Por isso, não basta a nossa vontade de querer ser boas pessoas, precisamos da ajuda de Deus para conseguir permanecer sendo pessoas boas.
É mais ou menos como no caso da violência doméstica. O homem e mulher discutem, o homem fica raivoso e agride a mulher. Depois que agrediu, se arrepende e promete para a mulher que nunca mais vai fazer isso. Mas logo acontece algo e começa uma discussão. Começa uma nova briga, o homem fica raivoso e agride a mulher. Depois de agredir, se arrepende de novo. E esse círculo vai se repetindo. O arrependimento já não melhora nada. Sem a ajuda externa, sem procurar ajuda na igreja, na psicologia ou na delegacia – isso não vai mudar.
Porque eu não entendo o que faço, pois não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário faço justamente aquilo que odeio. Se faço o que não quero, isso prova que reconheço que a lei diz o que é certo. E isso mostra que, de fato, já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive dentro de mim é que faz. (Rm 7.15-17).
Quando alguém nos pergunta, porque fizemos determinada coisa se sabíamos que estava errado, nós respondemos: - Eu não queria ter feito o que fiz. Fiz sem querer. Para o apostolo Paulo, não tem essa de “fiz sem querer”. Fazemos coisas erradas porque essa é nossa natureza pecaminosa. Nós somos pessoas pecadoras. Faz parte de nosso ser. É o pecado que habita em nós que faz com que pensemos e agimos sem fé e sem amor.
É só olhar a nossa volta para perceber todas as consequências dos pecados. Vemos a injustiça, a corrupção, a violência, a desunião, a mentira, a infidelidade, mortes... O mal se apresenta de uma forma escancarada ao nosso redor. Diante de tanta maldade, nossa natureza pecaminosa – no entanto - nos faz culpar os outros pelos males que detonam o nosso mundo e também prejudicam vidas de seres humanos e de toda a Criação de Deus. No entanto, se analisarmos com sinceridade os nossos corações, as nossas mentes e nossos desejos, nós claramente vamos perceber de que a presença da maldade faz parte do nosso ser.
Para o apóstolo Paulo, ninguém de nós consegue cumprir a Lei de Deus, ou ser uma pessoa totalmente agradável a Deus. Somos fracos demais para isso. Nossa tendência é destruir a bondade, os relacionamentos, tudo de bom que está a nossa volta e – com isso - destruímos a nós mesmos.
Mas Deus quer nos ajudar a permanecer sendo pessoas boas.
Para isso precisamos nos alimentar de sua Palavra. Precisamos ouvi-la e conviver com pessoas que também buscam a ajuda e orientação de Deus.
Mas, Deus nos conhece muito bem e Ele sabe que nós somos inconstantes em nossas decisões. Por isso, Deus nos quer dar algo mais forte do que a nossa vontade, ele quer dar-nos o seu Espírito Santo, para que o Espírito de Deus seja o nosso guia- o nosso cavaleiro - e nos mantenha no caminho de Deus. Deus quer nos ajudar a controlar nossa inconstância, dando-nos o seu Espírito Santo.
Martin Lutero ensinou que o ser humano é ao mesmo tempo justo e pecador. A confissão de pecados e a fé em Jesus Cristo nos justificam, isso é, nos lavam os pecados. É como o banho que nos limpa de toda sujeira. Lamentavelmente, não permanecemos limpos. Voltamos a nos sujar e precisamos outra vez que Jesus nos perdoe e nos limpe da sujeira do pecado. E isso não vai mudar. Será assim até a hora de nossa morte. E se deixarmos de procurar a Deus nessa vida, então sim, nós nos afundaremos em nossa própria sujeira, em nossa própria maldade.
Sem o auxílio de Deus - através do Espírito Santo - o ser humano não consegue se livrar da violência e de todos os outros frutos do pecado. Somos todos(as) miseravelmente iguais nisso. Só Deus pode nos livrar do pecado. Essa leitura negativa do ser humano quer nos livrar de falsas ilusões. Sem Deus, sem fé em Jesus Cristo, estamos perdidos. E isso não é uma mensagem apenas para depois da morte. Essa é uma mensagem para o aqui e o agora.
Por isso, o Apóstolo Paulo escreve que a única saída é Jesus Cristo.
Como sou infeliz e quem me livrará desse corpo que me leva para a morte?
Que Deus seja louvado, pois Ele fará isso por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.(Rm 7.24-25)
Colocar-se sob a graça de Deus, aproximar-se de Jesus e de seus ensinamentos, significa que Ele nos mostrará uma saída para essa nossa vil condição humana. Sem Jesus estamos condenados a pecar e a viver entre os frutos do pecado. Mas, o sacrifício de Jesus na cruz nos pode libertar de nossa condição humana de pecado e nos fazer experimentar os frutos da graça e do amor de Deus em nossa vida.
É o próprio Filho de Deus que vem ao encontro do ser humano para nos livrar de nossa angústia e aflição. Quando certas situações começam a desandar, fugindo ao controle, seja emocional, financeiro, moral ou espiritual, o mundo, por si só, não oferece recurso. Aliás, o mundo tem sim um prazer enorme mas é pelo escândalo e pelo sangue, pois isso traz manchete, dentro e fora da igreja.
O apóstolo Paulo e o Evangelho que ouvimos hoje nos apontam a única saída. Quando tudo fica fora de controle, Jesus diz: Venham a mim, todos(as) vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam de mim, porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrão descanso. (Mt 11.28-29)
Fazer besteira não é nada extraordinário. Todos estamos sujeitos a isso. Sentir-se cansado, desnorteado, sem controle é algo inerente à natureza humana. Mas, é possível parar, ouvir a Palavra de Deus, olhar para Jesus que nos diz: O caminho é por aqui.
Que o Espírito Santo de Deus tome conta de nossas vidas para que permaneçamos na fé e na obediência a Jesus Cristo. Amém
Oremos: Deus amoroso, nós te agradecemos de coração pelo presente da fé e da nova vida que concedes a cada dia. Fica ao nosso lado quando fraquejamos. Que reconhecendo o teu grande amor por nós, possamos nós trabalhar por sinais do teu Reino e da tua vontade em nosso dia-a-dia. Em nome de Jesus. Amém.