Quem foi São João? | Lucas 1.57-67

4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – JOÃO BATISTA, PROFETA | ANO A

24/06/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

quem foi “São João”? O mês de junho é marcado pelas comemorações de São João. Escolas, creches e outras instituições fazem “arraiá”, “dança da quadrilha”, com direito a bolo de milho, bolo de fubá, canjica, curau, cuscuz, pamonha e quentão. É uma festa com muita alegria e diversão.

Da 5ª série do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio estudei na Escola São João de Agrolândia/SC. Em junho, era sempre aquela diversão. Pena que ainda não tinham os celulares como hoje pra filmar os teatros que a gente fazia. Lembro que em um ano a gente colocou até um tobata dentro da escola para o teatro do “Casamento Caipira”.

Mas será que as pessoas ainda sabem quem é esse tal de São João? Ou será que, como no Natal e na Páscoa, o significado das comemorações foi perdido? Qual é o motivo de no dia 24 de Junho se lembrar o dia de São João? Talvez as músicas e as festividades tenham ocultado o real significado da festa que os irmãos católicos chamam de “A Solenidade de São João”.

Mas, afinal de contas, quem foi São João? A resposta é simples: as festas de São João se referem a João Batista. Esse é um importante personagem dos Evangelhos e do Novo Testamento. E sua história precisa ser mais conhecida e divulgada – especialmente no mês de Julho. Mas, por quê o dia 24 de Junho? Nesse dia, a Igreja celebra o nascimento de João Batista, pois, conforme a tradição, ele nasceu seis meses antes de Jesus.

Para compreendermos melhor a vida desse servo de Deus, vamos ver a sua vida a partir de quatro tópicos:

 

1                O NASCIMENTO MILAGROSO

 

Lucas inicia seu evangelho contando a história do nascimento de João Batista. Assim nos diz a Palavra: “Nos dias de Herodes, rei da Judeia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. A mulher dele era das filhas de Arão e se chamava Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, vivendo de forma irrepreensível em todos os preceitos e mandamentos do Senhor. Eles não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois já tinham idade avançada.” (Lucas 1.5-7). Ou seja, a história desse casal é como a história de Abraão e Sarah e de Isaque e Rebeca no Antigo Testamento: não podiam ter filhos.

Mas então, algo surpreendente aconteceu: “E eis que apareceu a Zacarias um anjo do Senhor, à direita do altar do incenso. O Vê-lo, Zacarias ficou assustado, e o temor se apoderou dele. O anjo, porém, lhe disse: – Não tenha medo, Zacarias, porque a sua oração foi ouvida. Isabel, sua esposa, dará à luz um filho, a quem você dará o nome de João.” (Lucas 1.11-13). O nascimento de João Batista é um milagre de Deus. Essa criança virá ao mundo com uma missão, um propósito: “Ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre materno. Ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado.” (Lucas 1.15-17). E a alegria da gravidez foi ainda maior para Isabel, que disse: Foi isto o que o Senhor me fez, ao contemplar-me, para acabar com a minha vergonha diante das pessoas”. (Lucas 1.25). Naquele tempo, a esterilidade significava o futuro esquecimento do casal, pois não haveria descendente para perpetuar a memória.

É preciso mencionar que Isabel e Maria, mãe de Jesus, eram primas. Quando o anjo Gabriel apareceu a Maria para lhe anunciar o nascimento de Jesus, o próprio anjo diz a Maria: “E Isabel, sua prima, igualmente está grávida, apesar de sua idade avançada, sendo este já o sexto mês de gestação para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não há nada impossível.” (Lucas 1.36-37). Portanto, além de tudo, João Batista também é um parente (ou primo) de Jesus.

Esta é a história do seu nascimento: um milagre divino na vida de um casal de idosos.

 

2                O PREPARADOR DO CAMINHO

 

A vida de João Batista foi marcada pela humildade e submissão à vontade de Deus. O ministério de João Batista iniciou antes do ministério de Jesus. Entretanto, João Batista não era o Messias prometido, mas veio para preparar o caminho para o Messias. O conteúdo da sua pregação é claro e conciso: “Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia. Ele dizia: – Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus.” (Mateus 3.2). Qual é a missão de João Batista? Proclamar o arrependimento e a novidade do Reino de Deus. João Batista não será o Salvador, mas preparará o caminho para o Salvador.

Por isso, nos diz o outro João, o evangelista: “Houve um homem enviado por Deus, e o nome dele era João. Este veio como testemunha para testificar a respeito da luz, para que todos viessem a crer por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina toda a humanidade.” (João 1.6-9). João Batista não é a luz, mas é reflexo da luz, tal qual a lua é vista por causa do reflexo do sol. Ele não veio para salvar a humanidade, mas preparará o caminho para o Redentor.

Sua vida e seu ministério foram marcados pela simplicidade – um protesto ao excesso e ao desperdício. Assim nos diz Mateus: “João usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinto de couro. O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre”. (Mateus 3.4). Haja apetite! João Batista tinha hábitos inusitados, mas que significavam o seu protesto diante da cobiça, do poder e das autoridades do seu tempo.

Muitas pessoas o procuravam no deserto para ouvir a sua pregação: “Então os moradores de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região em volta do Jordão iam até onde ele estava. E confessando os seus pecados, eram batizados no rio Jordão. Quando João viu que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: – Raça de víboras. Quem deu a entender que vocês podem fugir da ira que está por vir?” (Mateus 3.7). Perceba que essa crítica não é dirigida ao povo, mas às autoridades religiosas.

Em seu ministério, João Batista demonstrou coragem e ousadia ao preparar o caminho para Jesus.

 

3                O BATISMO DE JESUS

 

Como vimos, João Batista realizava batismos. É daí que vem o nome “Batista”. Ele é João, o que batiza. No Antigo Testamento, havia a prática da circuncisão – um corte que era realizado no órgão genital masculino como sinal da Aliança de Deus com o seu povo. O próprio João Batista foi circuncidado (cf. Lucas 1.59).

Entretanto, João Batista começa a sinalizar o amor de Deus de outra forma: não através de uma delicada cirurgia no órgão genital masculino já no oitavo dia após o nascimento, mas através da água. Mais tarde, o apóstolo Paulo irá sinalizar que o batismo é a substituição da circuncisão (cf. Colossenses 2.11-12). Assim como a circuncisão é a marca da Antiga Aliança (Antigo Testamento), o batismo é a marca da Nova Aliança (Novo Testamento).

E aconteceu então que o próprio Senhor Jesus foi para ser batizado por João. Primeiramente, João achou aquilo estranho, dizendo; “ – Eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim?” (Mateus 3.15). Por fim, João batizou Jesus em um momento sublime onde a Trindade é facilmente reconhecida: o Pai que disse dos céus “esse é meu filho amado, a quem amo muito”, o Filho, Jesus Cristo, que foi batizado, e o Espírito Santo que desceu em forma de pomba (cf. Mateus 3.16-17).

João Batista teve a oportunidade de participar do ato que inaugurou o ministério de Jesus e que marcou a sua identidade como Filho de Deus. É a partir desse ato que Jesus irá pregar e fazer grandes sinais durante três anos, até a sua morte e ressurreição.

Além disso, o batismo se tornou essencial para a Igreja Cristã que já o realiza há quase dois mil anos. O Senhor Jesus, após a ressurreição, disse aos seus discípulos: “ – Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” (Mateus 28.18-19). Até hoje, fazemos o batismo para cumprir a ordem de Jesus. E quem deu início a este Santo Ministério foi João Batista, o servo de Deus.

 

 

4                UM CAPRICHO DOS PODEROSOS GEROU SUA MORTE

 

João Batista foi preso por causa da sua pregação contra Herodes que estava se relacionando com Herodias, esposa de seu irmão Filipe. Mas João Batista não foi esquecido por Jesus, que mandou que seus discípulos fossem lhe dizer: anunciem a João o que estão ouvindo e vendo: os cegos veem ,os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres está sendo pregado o evangelho.” (Mateus 11.4-5).

Quando as autoridades brincam, a injustiça recai sobre os mais fracos; quando as autoridades se divertem, os mais pobres é que pagam o preço; quando as autoridades resolvem rir, os mais humildes é que irão chorar: “quando chegou o dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou diante de todos e agradou a Herodes. Este prometeu, com juramento, dar-lhe o que ela pedisse. Então ela, instigada por sua mãe, disse: – Dê-me, aqui, num prato, a cabeça de João Batista”. (Mateus 14.6-8).

Foi assim que João Batista foi morto: assassinato por um capricho dos que tem o poder nas mãos (ou acham que tem todo o poder). “Assim, Herodes deu ordens para que João fosse decapitado na prisão. A cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, que a levou à sua mãe. Então vieram os discípulos de João, levaram o corpo e o sepultaram; depois, foram e anunciaram isso a Jesus.” (Mateus 14.10-12). Essa não é uma notícia que remexe as nossas entranhas? Sentimos uma imensa indignação ao ler essas palavras?

A notícia da morte de João Batista afetou Jesus: “Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco para um lugar deserto, à parte.” (Mateus 14.13). Jesus, que anteriormente já tinha dito: “ ­Em verdade lhes digo: entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior que João Batista; mas o menor no Reino dos Céus é maior do que ele.” (Mateus 11.11).

Com dura violência, quiseram calar a voz daquele que clamava no deserto e que preparava o caminho do Senhor. Mas a sua mensagem não pode ser calada – jamais! Assim como não pode ser calada a mensagem de Jesus, o nosso Senhor e Salvador. A vida continua sendo mais criativa que as forças que produzem a morte! E aí daqueles que se colocam do lado dos poderosos e das suas injustiças!

Amados irmãos, amadas irmãs,

este foi “São João Batista”, um homem humilde, um profeta, um pregador, um mártir. Com João Batista, aprendemos:

·     Sobre a fé: Seus pais creram na promessa de Deus e o impossível aconteceu a um casal que já não tinha mais a esperança de ter um filho;

·     Sobre a humildade: João Batista preparou o caminho do Senhor. João não era a luz, mas veio testemunhar da luz. Da mesma forma, não somos nós mesmos que devemos brilhar; devemos ser pequenos para que Jesus brilhe e apareça;

·     Sobre o arrependimento: somos justos e pecadores por causa de Cristo. Devemos abandonar a injustiça para abraçar a justiça e a paz em nossas vidas – na prática;

·     Sobre a obediência a Deus: João Batista não compreendeu por que Jesus precisava ser batizado. Mesmo assim, obedeceu e realizou o batismo;

·     Sobre a coragem: Pregar a verdade do Reino de Deus pode custar a nossa própria cabeça. João Batista sabia que sua vida estava em risco. Mas ele sabia também que sua vida não estava nas mãos dos poderosos, mas do próprio Deus. Por isso, teve coragem para anunciar o Reino de Deus e denunciar os pecados do povo e dos poderosos do seu tempo.

 

Ao celebrarmos as tantas festas juninas, não esqueçamos da história desse importante servo de Deus que nos inspira a tantas ações práticas para a nossa sociedade hoje. Deus nos abençoe, amém.


4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – JOÃO BATISTA, PROFETA| BRANCO | CICLO DO TEMPO COMUM | ANO A

25 de Junho de 2023


P. William Felipe Zacarias

 

 

 


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 57 / Versículo Final: 67
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 70673
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Arrisco e coloco a minha confiança somente no único Deus, invisível e incompreensível, o que criou o céu e a terra.
Martim Lutero
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