O tema do ano de 2016 da IECLB é “Pela graça de Deus livres para cuidar”. Declara que o ser humano é liberto graciosamente por Deus. Nada o escraviza. Como pessoa livre é também livre para cuidar. Sim, livre, não obrigado. A graça não obriga. Ela convida. A ação da pessoa alcançada pela graça de Deus será sempre uma resposta de fé e amor ao cuidado que recebeu de Deus. Porque foi cuidada por Deus, a pessoa cuida.
Cuida do quê? De quem? Como? Neste texto opto pelo cuidado com a criação a partir das referências que encontramos em gênesis 2.7-17.
Gênesis 2 apresenta a segunda narrativa da criação. E é uma confissão de fé. Reconhece e confessa que Deus é o criador. Nós O confessamos assim no Credo Apostólico. Mas Deus não é só o criador, é também o mantenedor de toda forma de vida. Entre elas a humana. No princípio da criação está a confissão de fé de que a vida é criada e mantida pela graciosa mão de Deus.
No texto de gênesis 2 recebemos uma tarefa: cuidar do jardim criado por Deus e que é o lugar onde fomos colocados para viver. Dele vem nosso sustento. Este é também o tema do ano da Igreja. Somos pessoas livres para cuidar da criação e da vida, pois a natureza não está à venda. A tarefa que recebemos de Deus não é a de transformar em mercadoria a dádiva da criação, mas de cuidar dela. Como cada um/a de nós tem cumprido esta tarefa que recebeu? Pequenos gestos como gerar o mínimo de lixo possível e dar o correto destino a ele ou mesmo ter uma planta dentro de casa são significativos.
Mas gênesis 2 também traz uma tentação. Há, na criação de Deus, uma árvore que dá conhecimento do bem e do mal. Dela Deus diz: deixe-a, não coma do seu fruto. Mas tudo o que é proibido parece ficar mais gostoso. Acho que Deus “brincou com fogo”. Há muitas formas de compreender esta passagem. Opto pela seguinte: a vida na criação de Deus fica mais fácil quando vivida sob o dom do discernimento. Saber o que posso e o que não posso fazer é parte da dádiva criadora de Deus. Saber o que devo e o que não devo é parte da dádiva criadora de Deus.
No trato com a natureza este dom é essencial. Dela podemos tirar o sustento – mas não devemos destruí-la; podemos modifica-la com a construção de casas e cidades para dignificar a vida das pessoas – mas não temos o direito de exterminar seus rios, a fauna e a flora ou comercializar a dádiva criada; etc.
Um importante critério para saber o que devo e o que não devo é responder à pergunta: o que faço em relação à natureza gera um resultado de amor e paz para com a comunitariedade e com a própria natureza?
Que Deus te dê a graça do discernimento no cumprimento graciosa da tua tarefa de cuidador/a da criação. Amém.