Igrejas brasileiras se engajam na campanha pelo desarmamento

09/02/2005

A ONG Viva Rio convidou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) para que incentivem igrejas e congregações a se engajarem na campanha pelo desarmamento e instalarem em seus templos postos de recolhimento de armas. Até março, Viva Rio pretende contar com 100 postos de coleta nas igrejas em todo o território nacional.

No Rio de Janeiro, sede da Viva Rio, nove igrejas - católicas, protestantes e pentecostais-- já implantaram postos de recolhimento de armas em 2004. É uma forma concreta de trabalhar pela paz. Enquanto nos Estados Unidos muitas igrejas apóiam o presidente Bush na guerra do Iraque, no Brasil as igrejas estão engajadas no desarmamento, disse o coordenador da área Religião e Paz da Viva Rio, André Porto.

Em dezembro de 2003, o Congresso aprovou o Estatuto do Desarmamento e logo depois foi dado início à campanha da coleta de armas. Mas esse é apenas um dos 24 itens do Estatuto, admoestou Porto. O Estatuto também proíbe o porte de armas e prevê a marcação numérica da munição, por lote, o que é muito importante para a apuração de crimes, explicou.

Estima-se que 10 milhões de armas estejam nas mãos de civis no país. No ano passado, foram recolhidas 288 mil armas de pessoas que, voluntariamente, as entregaram num dos postos de coleta.

Quem entregar armas na campanha, que foi prorrogada até julho deste ano, não precisa dar qualquer explicação a respeito da origem da mesma e ainda recebe uma indenização que varia de 100 a 300 reais (cerca de 38 a 115 dólares), dependendo do tipo de arma entregue.

No Rio de Janeiro, 99% dos postos de coleta estão instalados em delegacias da polícia civil, militar e federal. Acontece que boa parte da população tem medo da polícia e na delegacia a arma não é destruída na hora, por marreta, como acontece em outros postos de recolhimento, destacou André Porto, mostrando a importância de contar com tais postos em igrejas.

Depois, no inconsciente coletivo da população a igreja está vinculada à paz. Descobrimos que entregar uma arma representa, para muitas pessoas, um ato de libertação, afirmou o coordenador de Religião e Paz da Viva Rio. Igrejas são espaços por excelência para esse momento libertário. Elas também estão sendo chamadas a se envolver na campanha pelo referendo agendado para 3 de outubro, quando a população brasileira vai dizer se quer ou não a venda de armas no comércio.

A campanha pelo desarmamento, embora sofra contestação dos que dizem que o bandido se arma e a população fica desprotegida, fez diminuir em 27% o porte de armas em São Paulo no ano passado. Das armas apreendidas de bandidos em 2004, 40% eram legais, muitas delas furtadas ou roubadas de casas particulares. Ter uma arma em casa é uma burrice. Está comprovado que o portador de arma

tem 16 vezes mais chance de ser morto do que aquele que não possui arma em casa em caso de invasão da propriedade. Depois, uma arma em casa pode levar ao suicídio, a crimes passionais, sem contar com os acidentes, arrolou André Porto.

A violência, emendou, é uma epidemia social e a arma é o vírus dessa doença. Pesquisa mostrou que um terço dos assassinatos são cometidos por pessoas comuns em briga de vizinhos, de amigos, de marido e mulher e até em briga de trânsito. A cada ano, morrem 40 mil pessoas assassinadas no Brasil e são cometidos, em média, 100 crimes por dia. A maior incidência, mostra a pesquisa, acontece domingos à noite, depois do futebol.

Viva Rio faz campanha pelo desarmamento há 11 anos. Mas essa é apenas uma parte das suas atividades. Ela também defende a reforma da polícia militar do Rio de Janeiro e a introdução de uma polícia de inteligência, de prevenção. Por proposta que Viva Rio defendeu, foram introduzidas nas favelas do Pavão, Pavãozinho e do Cantagalo, três das mais populosas do Rio, o Grupo de Policiamento em Áreas Especiais, que trabalha de forma preventiva, levando em conta a questão social. Nessas favelas o índice de criminalidade caiu vertiginosamente com a ação dos grupos especiais.

Viva Rio nasceu em dezembro de 1993, quando a cidade do Rio de Janeiro vivia um clima de medo e indignação diante da onda de seqüestros e o assassinato de oito meninos junto à Igreja da Candelária, no centro, e a chacina de 21 pessoas em Vigário Geral.

Em resposta, foi organizada mobilização na cidade, que reuniu milhares de pessoas vestidas de branco e que fizeram dois minutos de silêncio pela paz. Desde então, Viva Rio desenvolve campanhas de paz e projetos sociais, tem atividades em 350 favelas e comunidades de baixa renda da Região Metropolitana, e investe principalmente nos jovens, segmento mais vulnerável aos riscos sociais.

Fonte: ALC Notícias - Edelberto Behs
 

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