História de vida de Zenaide Christmann Zarth

23/02/2016

 

 

Nome: Zenaide Christmann Zarth
 

Tempo de participação na IECLB: Desde o batismo
 

Comunidade: Evangélica de Esquina Eldorado.
 

Paróquia: Horizontina/RS
 

Sínodo: Noroeste Rio-Grandense

 

Uma mulher luterana ativa na vida comunitária e na luta popular

 
“A Zenaide é uma menina muito inteligente. Vai ter que continuar estudando”, disse o professor Ângelo, quando ela terminou o então “primário” em Esquina Eldorado, Horizontina, RS. No entanto, a menina muito inteligente não pôde estudar, porque “menina não precisa estudar”. 

A menina inteligente se transformou numa inteligente mulher. Constituiu uma linda família e buscou, com todas as suas forças, ser uma mulher feliz. 

Tendo crescido dentro de uma família muito ativa nas atividades de sua comunidade, Zenaide soube muito bem o que fazer para o bem da comunidade, usando os dons que Deus lhe deu e sendo feliz. 

Por muitos anos, foi orientadora do Culto Infantil, mas não tranquilamente onde já há uma estrutura montada. Com o apoio da liderança de sua comunidade, criou espaços para as crianças, primeiro no salão da sociedade, outras nas dependências da antiga escola, já que ainda não havia sido fundada a atual Comunidade Evangélica de Esquina Eldorado. Toda vez que eu vinha para casa, ela compartilhava suas alegrias nesta missão que desenvolvia, sempre ansiosa para receber novas ideias para novos momentos significativos, cheios de simbologia e sabedoria. E eu compartilhava as experiências em minhas comunidades. Éramos duas ministras colocando nossas vidas a serviço do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Um dia ela me recebeu com uma novidade: tinha assumido aulas de religião na nossa antiga escolinha. Quanta alegria! Quantos relatos de amor e carinho com aquelas crianças! Tenho muita saudade daqueles olhos lindos, cheios de emoção, que me olhavam, esperando o retorno emocionado dos meus olhos. E eu retornava! E às vezes chorávamos abraçadas! Ah, minha irmã querida, quanta saudade!

Zenaide participou ativamente da fundação da Comunidade de Eldorado, ao lado do marido Ize, Luiz Fernando Zarth, também muito participativo, ao lado da nossa mãe Illa Hilma Golzer Christmann e do nosso pai Bruno Christmann, que, afinal, nos introduziram nesta paixão de viver comunidade. Sua filha Cristina e seus filhos Cristiano e Fernando também receberam este impulso.

Eu lembro com carinho que era ela que levava o pote para as flores do altar. Atendendo ao seu desafio, meu pai buscava a argila que fixava as margaridas, e minha mãe as colhia no jardim lá de casa. Lembro também que o Ize fez uma cruz para o altar. Era uma cruz muito significativa.

Muitos afazeres em casa e no cuidado de vacas leiteiras não foram desculpa para não servir em sua comunidade. Ela ainda teve um papel fundamental na criação do grupo de OASE, formado por vizinhas, parentes e amigas. “Lugar de lavar a alma”, ela dizia. Lembro que às vezes compartilhava tristezas e decepções, mas as superava constantemente, sempre com nova fé.

Nesta vivência comunitária, onde muito se estudava a Bíblia, onde a pregação do Evangelho alertava para a missão libertadora no mundo, minha irmã Zenaide foi desafiada a entrar na luta pelos direitos do povo oprimido. Eram os inícios do MMTR (Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais) em meados dos anos 80. A conquista da aposentadoria da trabalhadora rural veio desta luta, depois de reconhecida a sua profissão. “Não é presente, não”, ela dizia. “É resultado da nossa organização”. Eu lembro daquele rosto lindo iluminado por um baita sorrisão, quando me mostrou seus documentos profissionais. “Agora também sou cidadã”, ela disse. “Cidadã trabalhadora rural”. 

Eu sentia muito orgulho de Zenaide. Ela estava colocando em prática o que eu pregava do púlpito. Lembro muito bem do carinho que eu sentia por ela quando ela me contava como as mulheres eram vítimas da repressão policial nas manifestações. Foi quando ela começou a entender o que era a terrível ditadura militar pela qual passava o nosso país. 

Outra frente de luta foi dentro da cooperativa, onde as mulheres não tinham nem o direito de falar nas assembleias, muito menos de ter suas reivindicações ouvidas. Lembro que fiquei pasma ao ouvi-la me contando que a mulher não podia ser sócia da cooperativa. No movimento sindical, onde as portas já estavam mais abertas, ela também atuava. Também nas frentes políticas, quando se forjava um novo jeito de fazer política. Isto foi há mais de 30 anos. Podemos imaginar todo o preconceito que havia contra o engajamento da mulher, todo o falatório que ela precisava ouvir sobre as suas saídas de casa, sobre as suas viagens, sobre a sua vontade de colocar em prática o que tinha aprendido nos cultos de sua comunidade, nos estudos bíblicos da OASE, na preparação e nas celebrações do culto infantil e nos estudos das aulas de Religião. 

Esta foi Zenaide Christmann Zarth, uma mulher luterana ativa na vida comunitária e na luta popular. Eu tenho muito orgulho de ter sido irmã dela. 

Zenaide com certeza teria vivenciado muito mais a serviço do Evangelho, se a morte não tivesse vindo tão cedo. Ela está agora junto a Deus. Eu aqui, em meio à minha saudade, imagino-a sentada numa rodinha de anjos , ensinando-lhes a cantar: “Damos graças ao Senhor, damos graças, graças pelo seu amor. 
De manhã cedo os passarinhos estão cantando louvando ao Criador
E tu amiga(o), por que não cantas, louvando a Cristo Jesus, teu Salvador?”

Zenaide Christmann Zarth
Nascida em 24 de março de 1955.
Falecida em 27 de abril de 2001.
Filha de Illa Hilma Goelzer Christmann e Bruno Christmann.
Esposa de Luiz Fernando Zarth.
Mãe de Cristina e Cristiano (gêmeos) e Fernando.


História de vida relatada e escrita por Louraini Christmann (pastora na IECLB)


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