História de vida de Olga Ohnersorge Kramer

21/08/2017

 

Nome: Olga Ohnersorge Kramer

Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade: Palmital-ES

Sínodo: Espírito Santo a Belém

O que me leva a escrever sobre a minha avó são as lembranças que tenho, quando nestes últimos meses, tenho trabalhado com pedaços de retalhos coloridos. Isto me reporta aos momentos mais simples e alegres de minha infância. Memórias que me colocam diante de mulheres fortes, minhas avós, mãe, tias. Que tiveram uma educação muito rígida na sua época. 

Ao chegar à casa da vovó, da estrada já se ouvia o pedalar ligeiro da máquina de costura “Singer”. Seus largos pés descalços no pedal, suas mãos ágeis no tecido colorido. Em cima do seu nariz dois óculos, sobre a mesa linhas, tesoura, ferro de passar à brasa e pelo chão, aqueles pedaços lindos de retalhos. Assim, estava ela, cortando tecidos ou transformando roupas de adultos para que crianças da comunidade pudessem ter o que vestir. Remendando calças e ajeitando outras peças para que pudessem servir às pessoas necessitadas da comunidade. Vovó costurava e transformava peças de roupas para que pudéssemos nos sentir bem vestidas, agasalhadas. Quanto carinho!

No canto do quarto, sacos de retalhos à nossa espera para ser revirado, escolhido, recortado, ser costurado e servir de roupinhas para as nossas bonecas de pano, de sabugo de milho, que festa! Chegar na casa da vovó Olga era assim, quando não se ouvia os pedais da sua máquina, era o barulho da enxada na horta entre pedrinhas e galhos secos. Estava ela com seu chapéu de palha sobre a cabeça que a protegia do sol quente, capinando o mato, o inço entre os canteiros forrados de verduras e temperos verdes. Limpando tudo com muito cuidado. Ou ainda, animada junto com os demais na roça. Um detalhe: cantando ou assoviando. Este canto e assovio também ecoavam para dentro de sua comunidade. Era motivadora para que crianças participassem do Culto Infantil, Juventude. Apreciava a música, a dança, a leitura do Jornal Evangélico. Vovó Olga era conselheira, a boa conversa fazia parte de sua vida.

Era gostoso ir dormir na casa da vovó. Antes de todos e todas se recolherem, vovó e vovô chamavam todos e todas para a devocional. Eram lidos o texto bíblico, a meditação do Castelo Forte e se cantava belos hinos. Também hinos do HPD eram entoados a quatro vozes. Após isto, deitar nos colchões fofinhos de palha de milho era o mais esperado, ainda mais quando lá fora chovia. Era pedir para ter lindos sonhos. Ouvir histórias. Esse aconchego de ternura, era muito gratificante.

O dia era anunciado pelo cantar do galo e passarinhos. Logo o café estava na mesa e o dia começava com devocional. Após o café cada qual ia para os seus afazeres. Quando era a época da colheita do café ou plantio de sementes ou limpeza da roça as exigências eram maiores. Quando havia mais gente (camaradas) para ajudar, o dia era corrido. Assim, a vida com muita luta foi encarada por toda a família. Vovô Edmundo além de regente era agricultor e gerenciava um pequeno armazém onde de tudo se vendia um pouco. Isto há muitos anos no interior do Espírito Santo. 

Mesmo com inúmeras tarefas e dificuldades, vovó e vovô sempre se mantiveram fiéis à sua fé, a sua IECLB. Conheci meus avós cantando no coral. Vovô Edmundo regia coral, também lecionou lá no interior do sul do Espírito Santo. Era muito bonito quando a família toda se encontrava na casa da vovó para passar juntos a Páscoa. As latas de flores de balsaminas se tornavam belos ninhos. Ovos de galinha cozidos, tingidos com cores exuberantes dos retalhos, nos eram presenteados. A família do vovô formava um belo coral a 4 vozes, e nós, netos e netas participávamos deste espetáculo. 

Vovó Olga foi exemplo de persistência e luta na OASE, na Comunidade do Córrego do Jacarandá, Paróquia de Vila Valério, ES. Na luta por dias melhores e em busca de outros sonhos, na década de 1980, junto com outros familiares se mudaram para Rondônia. Vovó levava para a OASE a força de plantar e colher o orgânico. Sua comunicação era fantástica. Plantava muitas flores porque gostava de flores, de roça, de cores, de cheiros, de texturas, de borboletas, de pássaros. Sua casa, seu quintal sempre florido. Tinha o dom de cantar e desenhar. Com ela aprendemos a arte de trançar cipó. Belas cestas, balaios. Em suas mãos qualquer pedaço de cipó virava a mais bela arte. Netos e netas ainda hoje continuam com este legado deixado por ela. Pastores, pastoras, estagiários e estagiárias que trabalharam nas paróquias de Cacoal, Rolim de Moura, Alta Floresta d'Oeste, eram presenteados com café que ela colhia, torrava e moía especialmente para eles e elas. Vovó e vovô se dedicaram integralmente muitos anos ao canto coral. Muitas foram as caminhadas a pé para celebrações, cultos, ensaios, até onde as forças lhes permitiram.

Olga Ohnersorge Kramer, filha de Franz Ohnersorge e Ema Müller Kramer, nasceu em 28 de julho de 1921 em Aimorés, Minas Gerais. Como na vida de cada ser humano, Olga também costurou sonhos, pregou ternura, remendou carinho, alegrias e construiu amor. Olga e Edmundo Augusto se casaram no dia 09 de setembro de 1939, em Palmital-ES. Foram abençoados com 06 filhas e 03 filhos. Edmundo cumpriu a sua missão, nos deixando no dia 30 de agosto de 1992. Vovó aos poucos também foi sentindo as fragilidades da vida. Inspiradora de muitas lutas, criativa e forte. Diante das fraquezas da vida, vovó se reerguia na oração e no canto. 

Na minha memória, vovô sempre chegava em nossas casas assoviando o hino: “Glória, glória, aleluia. Glória, glória, aleluia... Vencendo, vem, Jesus”. (naipe) Voz baixo. Vovó cantava muito. Voz suave que mais tarde a doença silenciou. Não pode mais cantar. Porém, continuava a distribuir abraço aberto. Era muito gostoso estar ali aconchegada. Como o envelhecimento faz parte da vida e as fragilidades trazem outras consequências, a doença foi progredindo e com ela muitos outros cuidados e atenção. Aos poucos, vovó também partiu, foi no dia 11 de agosto de 2006. Ela partiu deixando memórias, exemplos de carinhos, de fé, de serviço, de solidariedade que toda a sua geração têm muito a agradecer. 

Vovó e vovô nos transmitiram a vida e a fé em comunidade. Fé que diz respeito a todas as dimensões da vida e que no Batismo sabe reconhecer a Deus como o grande doador da vida.

Vovó Olga fica para sempre em nossos corações. Gratidão a Deus pelo tempo maravilhoso de convivência!


(História de vida contada por Telma Merinha Kramer)


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