História da Paróquia Centro - SP

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Igreja Martin Luther 1986 - Foto Heiner Heine pb
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rocha firme na metrópole

Durante seis décadas a vida comunitária dos luteranos da capital paulista concentrou-se no Centro da cidade. Mas São Paulo cresceu vertiginosamente e experimentou processos radicais de metropolização que acompanharam uma maciça chegada de imigrantes e de indústrias. Basta dizer que, em 1890, eram 130 mil os habitantes de São Paulo, número que quase dobrou (240 mil) em apenas dez anos e chegou a 1 milhão e 300 mil em 1940. A Grande São Paulo tem atualmente cerca de 20 milhões de habitantes, o que a inclui entre os cinco maiores conglomerados urbanos do planeta.

Tentativas de formar uma comunidade evangélico-luterana em São Paulo remontam a meados do século 19, mas por vários motivos elas fracassam. Somente no final do século, com a proclamação da República e a separação entre Igreja e Estado, chega-se a uma organização duradoura. Até então, as famílias eram atendidas pelos pastores das cidades de Rio Claro e Campinas.

A data que representa a fundação é 29 de outubro de 1891, quando o pastor Emil Bamberg reúne 80 famílias e institui-se a Egreja Evangélica Alleman. Seus estatutos, entretanto, são publicados apenas em 1907. Enquanto organizam-se campanhas e arrecadam-se doações para a construção de um templo próprio, os cultos são celebrados numa Igreja Presbiteriana.

uma casa e uma guerra


O impulso definitivo para que se erguesse um templo vem em 1906, com a doação de um terreno, cedido pelos senhores Daniel e Hermann Heydenreich. Em abril do ano seguinte lança-se a pedra fundamental do templo, mas somente no dia 25 de dezembro de 1908 - dezessete anos depois da constituição da Comunidade - é inaugurada a primeira casa dos luteranos em São Paulo. Localizado na Avenida Rio Branco, no Centro da cidade, o templo - o primeiro em estilo neogótico na capital - foi chamado inicialmente pelo nome alemão (Stadtkirche), passando a ser conhecido mais tarde como Igreja Matriz. Em 1991, foi rebatizado como Igreja Martin Luther.


Os tempos da I Guerra Mundial (1914-1918) trazem inúmeros problemas para os luteranos no Brasil, devido aos estreitos laços da Igreja com a Alemanha. O governo brasileiro corta relações diplomáticas com os alemães em 1917 e em função disso proíbe-se a celebração em São Paulo do culto que comemoraria os 400 anos da Reforma, em outubro daquele ano. Marcas desse passado ainda estão, por exemplo, no altar da igreja, onde um quadro eterniza em mármore os nomes de jovens de famílias da Comunidade que morreram nos campos conflagrados da Europa.

Reflexos da derrota alemã na guerra são sentidos inclusive numa crise financeira que abala a Comunidade. Os anos 20 e 30 trazem grande agitação política na cidade e no país, o que prejudica o andamento de vários trabalhos. Mesmo assim, cresce significativamente o número de membros e cria-se uma rede de atividades de escola dominical para crianças e jovens em diversas regiões da cidade.

expansão - e outra guerra

A existência de três pastorados possibilita o surgimento de novos pontos de pregação (Santana em 1932; capela de Vila Ema em 34; capela de Vila Carrão em 35). Em 1937 é possível até construir-se um centro comunitário e uma nova residência pastoral no bairro de Vila Mariana.

 
A Igreja volta a viver dificuldades decorrentes de um conflito armado com a eclosão da II Guerra Mundial (1939-45). O Brasil novamente corta relações diplomáticas com a Alemanha e, em 1943, envia tropas para lutar contra as forças do Eixo na Europa. Em 28 de maio daquele ano, uma reforma estatutária altera o nome da Comunidade para Igreja Evangélica Luterana de São Paulo.

As mulheres, que desde 1912 se organizavam no Frauenhilfe, têm suas atividades interrompidas na guerra e só se constituem como Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE) em 1948. Em 1954, a OASE abre o Lar para Idosos na Freguesia do Ó.

É um tempo em que os vínculos históricos dos cristãos luteranos com a germanidade passam a ser revisados e sopram novos ares defendendo mais profundidade na inserção definitiva da Igreja na realidade brasileira.


Na capital paulista e em seu entorno, o desenvolvimento industrial e habitacional cria inúmeras regiões de concentração urbana. A comunidade luterana, que já não vinha se furtando a acompanhar esse processo, descentraliza-se definitivamente em 1959, quando é inaugurada a Igreja da Paz, na zona sul. Ela se transformaria na sede da segunda paróquia da capital, a Paróquia Santo Amaro. A União Paroquial São Paulo, constituída em 1972, hoje possui dez comunidades, além de uma vasta rede de entidades diaconais.

denúncia da injustiça

A crescente inserção da Igreja na realidade brasileira a partir do pós-guerra é visível numa curiosa estatística do jornal A Cruz no Sul, órgão dos luteranos em São Paulo, em 1964. Nos dois templos então existentes, a freqüência média aos cultos em alemão era muito maior do que nos ofícios em português. Na Igreja do Centro: 90 pessoas (port.) e 195 pessoas (alemão). Na Igreja da Paz: 30 pessoas (port.) e 223 (alemão). No espaço de quatro décadas que nos separa dessa época, a situação é absolutamente diversa.


A Igreja Luterana em São Paulo fala a língua que as crescentes dificuldades sociais impostas ao povo brasileiro exigem: do anúncio da Boa Nova que está em Jesus Cristo e da denúncia da injustiça e da miséria como pecados que afrontam a dignidade humana e da criação.

Crianças, jovens, mulheres e homens integram-se em grupos, criam laços de fraternidade, procuram estar atentos para o mover do Espírito de Deus e para os desafios de fazer missão na metrópole. A Igreja que legaremos aos que vierem depois de nós depende dos passos que estamos dando hoje, usufruindo do conceito de liberdade - aliás, tão caro a Lutero -, que, mesmo vivido com restrições pelos luteranos de outras épocas (como aqueles impedidos de celebrar o reformador, em 1917), chegou a nós como herança e rocha firme, geração após geração.

(texto de Paulo Hebmüller, jornalista)
 

Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração.
2Coríntios 9.7
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