História da Diaconia no Sínodo Sudeste

01/02/2006

 A diaconia sempre representou uma marca e uma característica importante das comunidades cristãs ao longo da história do cristianismo. Ela significou sempre uma tradução concreta e efetiva do sentido da fé em Jesus Cristo na vida cotidiana. Ela sempre expressou o jeito de viver dos cristãos que testemunham a sua fé na prática do amor. Para os cristãos fé e vivência do amor são indissociáveis. Diaconia torna-se por isso uma das marcas da identidade cristã.

Na história das comunidades que fazem parte do Sínodo Sudeste constata-se uma atuação forte e decidida de pastores e leigos em favor das pessoas necessitadas e carentes. Sempre houve uma sensibilidade para uma ação que minimizasse a dor e o sofrimento das pessoas que estavam no âmbito das comunidades. Essa atuação concreta e efetiva, que nem sempre recebeu o nome de diaconia (mas era a fé vivida pelo amor), assumiu contornos e características diversas.

Num primeiro momento a ação voltou-se para as famílias dos imigrantes alemães chegados ao Brasil no século XIX e inícios do século XX. Dentro da precariedade em que viviam centenas de homens, mulheres e crianças foram criadas associações de ajuda mútua que procuravam suprir as mais diversas carências. Ênfase especial foi dada à educação e à saúde. Isso porque não foram cumpridas as promessas feitas pelos governos aos imigrantes, de que haveria escolas para todos. O atendimento à população na área da saúde era igualmente precário e exigia ações efetivas.

No período histórico que vai do século XIX até o final da 2º Guerra Mundial construíram-se escolas e hospitais que estavam voltados prioritariamente para os alemães e seus descendentes. Membros das comunidades integravam diretorias e conselhos destas instituições beneficentes e educacionais. Na maioria dos casos, pastores e/ou diaconisas atuavam de forma decidida como diretores, professores, enfermeiras, parteiras. Surgem, assim, escolas no Estado de São Paulo (São Paulo, Campinas, Rio Claro, Limeira, Friburgo, Monte Mor, Cosmópolis, São Caetano, Santos, Jundiaí etc.), no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Petrópolis, Nova Friburgo) e Minas Gerais (Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Juiz de Fora). Funda-se no Rio de Janeiro, em 1912, o Amparo Feminino que se transformará posteriormente em Maternidade.

A Segunda Guerra Mundial abalou profundamente as atividades educacionais e assistenciais. Muitas associações se dissolveram. Outras foram privatizadas ou continuaram de forma independente sem vínculo com a igreja.

As carências continuavam e neste sentido a sensibilidade para as necessidades continuou presente. Em 1948 foi fundada em São Paulo a Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE) como fruto de uma articulação dos membros que atuaram em campanhas de ajuda para a Europa faminta. A OASE tornou-se pessoa jurídica para construir em 1954 um Retiro para Idosos na Freguesia do Ó que funciona até os dias de hoje. A partir dos anos sessenta a OASE foi implementado o Departamento de Orientação e Educação à Família (DEOF) que ofereceu os mais variados cursos para as mulheres das redondezas. Sua atuação perdurou até o final dos anos noventa.

Nos anos sessenta vivia-se o clima da guerra fria entre os blocos oriental e ocidental. As igrejas tornaram-se sensíveis mais do que nunca para a realidade social. Dizia-se que seria um mau testemunho cristão deixar as questões sociais apenas para socialistas e comunistas.

Nos nordeste de Minas Gerais, mais precisamente, Teófilo Otoni, foi criado em 1963 o Internato Rural. Procurou vir ao encontro dos/as filhos/as de meeiros, posseiros e pequenos proprietários rurais, oferecendo, até os dias de hoje, formação e orientação técnica para a agricultura. 

As áreas metropolitanas passavam por profundas mudanças. Diante do inchaço das cidades as comunidades do Rio e de São Paulo procuraram implementar Centros Sociais que dessem conta do desafio da pobreza e da marginalidade. Surgem, assim, em 1970 o Centro Social Bom Samaritano em Ipanema - Rio de Janeiro e o Centro Social Heliodor Hesse em Santo André – São Paulo. O primeiro atendia as famílias das favelas Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, oferecendo cursos de alfabetização de adultos, culinária, corte e costura, datilografia e aconselhamento de mães e jovens. Já o segundo, situado no ABCD, região em franca expansão industrial, voltou-se para a área do planejamento familiar e atenção a saúde da mulher (prevenção ao câncer ginecológico).

No final dos anos setenta e inícios dos anos oitenta o Brasil vive o processo de redemocratização. Novos ventos sopram sobre o país e na sociedade civil brasileira emergem inúmeros movimentos sociais. Este fenômeno incidirá profundamente sobre a discussão e reflexão sobre os trabalhos diaconais das igrejas. Buscam-se e implementam-se ações que contribuam para as transformações estruturais da sociedade.

Neste contexto surge em 1980 o Centro Comunitário Casa Mateus na cidade Mauá/SP. Ao lado de atividades educativas para crianças e famílias empobrecidas procura-se estabelecer uma relação estreita com os movimentos sociais (associações de moradores, movimento de mulheres, saúde, etc). 

A partir das relações ecumênicas com a Igreja Católica, mais particularmente com a Pastoral do Menor, cria-se em 1986, na zona sul de São Paulo, o Programa Reconciliação do Menor (hoje Programa Comunitário da Reconciliação). Volta-se para uma parcela da população visivelmente marginalizada (ou em vias de marginalizar-se), a saber, as crianças em situação de rua. 

Em Belo Horizonte principia-se um trabalho com crianças em parceria com uma Associação de Moradores em Santa Fé. Este trabalho inspirará posteriormente um trabalho voltado para crianças, adolescentes e jovens no Aglomerado da Serra – Belo Horizonte denominado Centro de Integração Martinho.

Com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a derrota da candidatura de Luís Inácio Lula da Silva para a presidência do Brasil os movimentos sociais brasileiros passam por uma crise e uma profunda revisão. Emergem com mais intensidade reflexões e práticas que realçam a promoção da cidadania a partir de iniciativas de organizações sociais privadas em parceria ou não com o poder público.

Este novo cenário se refletirá em todos os trabalhos diaconais em maior ou menor grau. Esta fase faz com se estabeleçam novas parcerias entre as entidades e instituições diaconais e fundações, empresas e poder público.

Pastor Rolf Schünemann
 


Autor(a): Rolf Schünemann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Artigo
ID: 20293
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