História da Comunidade em Taquara - RS

Uma caminhada de mais de 150 anos

A história da Comunidade Evangélica em Taquara – IECLB: Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – se funde com o início da colonização de Taquara. Os primeiros evangélicos chegaram ao Rio Grande do Sul em 1824, em São Leopoldo e arredores. Em 1846, quando Tristão José Monteiro fundou a Colônia do Mundo Novo, dividiu esse enorme feudo em lotes de 48 hectares. Foi grande a procura por terras por parte de imigrantes alemães do Hunsrück (Alemanha) e por descendentes de imigrantes oriundos das colônias de Dois Irmãos e Hamburgo Velho. Formaram-se três novos povoados: Taquara do Mundo Novo (Taquara), Judengasse (Igrejinha) e Lappland (Três Coroas).

Um dos grandes problemas enfrentados pelos moradores da Colônia do Mundo Novo, entre tantos, era o precário atendimento espiritual. Pastores vindos de Hamburgo Velho, Campo Bom, São Leopoldo, Dois Irmãos e Picada 48 esforçavam-se no atendimento e realização das cerimônias religiosas.

Em Taquara, o primeiro registro oficial que se tem na Comunidade Evangélica data de 1854. Foram quatro batismos realizados pelo P. Haesbaert, residente em Hamburgo Velho, no dia 26 de julho de 1854. Ele atendia a maioria das comunidades em formação na época. Em 1868, 35 famílias reuniram-se para formar a assim denominada primeira Comunidade Evangélica de Taquara, ano em que também receberam seu primeiro pároco, o P. Robert Kröhne. Como havia encontrado a região com muitos problemas, agüentou apenas até 1870.

Sucedeu-lhe o P. Karl Friedrich Roos, iniciando-se uma nova fase de desenvolvimento na comunidade. Roos chegou à região a 16 de dezembro de 1871 e passou a residir em Três Coroas. Encontrou comunidades em formação muito divididas, com sérios problemas de alcoolismo, prostituição, infidelidades conjugais e outros. Contou, ainda, com a oposição de um pseudo-pastor, que dividiu os membros.Trata-se de Christoph Schäfer, um alfaiate que fora escolhido pelos próprios colonos para realizar trabalhos religiosos. Mas, em apenas pouco mais de um ano, o P. Roos conseguiu unir grande parte dos membros e ajudá-los espiritualmente e em seus problemas de saúde, já que possuía conhecimentos de Medicina que aprendera na Escola Missionária. Faleceu a 18 de março de 1873, apenas 3 semanas após seu casamento, vítima de septicemia, a partir de um ferimento que apresentava no pescoço e se agravara. Membros da comunidade foram buscar seu corpo em São Leopoldo e remaram à noite Rio dos Sinos acima. Causou grande comoção sua perda. Foi sepultado em Três Coroas, conforme seu desejo.

O P. Roos foi um marco na história de Taquara. A comunidade sentiu necessidade de construir uma igreja. No dia 30 de junho de 1872, por iniciativa e incentivo do P. Roos, foi lançada a pedra fundamental num terreno doado por Tristão José Monteiro e sua esposa Christina, a qual era evangélica. A inauguração da “Friedenskirche” ( Igreja da Paz) aconteceu a 18 de janeiro de 1874 (sem torre). Veja em capítulo à parte mais informações sobre as igrejas – evangélica e católica.

Com a morte do P. Roos, sucedeu-lhe o P. Johann Rudolf Dietschi, que era suíço. Sua primeira tarefa foi inaugurar a recém construída Igreja da Paz. Residia em casa alugada e, em 1894, Taquara construiu a primeira casa pastoral.

Há outro fato importante a ser destacado no período em que o P. Dietschi esteve em Taquara (final de 1873 a 1900): as atividades de corais. Para isto, torna-se necessário recorrer à história da “Sociedade 5 de Maio”. Já em 1866, fundou-se a “Sociedade Cantora Harmonia”, mas deixou de existir durante a Guerra do Paraguai. A 5 de maio de 1886, ressurgiu a sociedade. Tratava-se da “Liga dos Homens Alemães” (“Deutscher Männerbund”), cuja finalidade era cantar hinos sacros nas festas religiosas. Era estreita a ligação da Sociedade com a Comunidade Evangélica, pois o P. Dietschi foi um dos seus fundadores e o primeiro regente do coral É a primeira notícia que temos de coral na comunidade, apesar deste ter sido de confissão mista. Os pastores seguintes, Schlieper e Schultz, continuaram como regentes, inclusive o P. Schlieper atuou como presidente da Sociedade entre 1907-1913. O “Coro Misto Lyra” e o “Deutscher Männerbund” colocavam-se inteiramente à disposição da comunidade.

Com a saída do P. Dietschi, em 1900, assumiu a paróquia o pastor Johann Emil Ernst Schlieper. Permaneceu durante 19 anos. Neste período, por iniciativa de sua esposa, Helene, foi fundada a “Frauenhilfe”, hoje: OASE – Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas, em outubro de 1915.

O P. Schlieper faleceu em 1919, vitimado por gripe espanhola. Já doente , tinha ido fazer um sepultamento, abaixo de muita chuva, o que lhe agravou a doença Está sepultado aqui em Taquara. Sucedeu-lhe o pastor Friedrich Emil Schultz, de 1920 a 1928. Em 1921, iniciam-se as atividades da Escola Dominical (hoje: Culto Infantil). Contava com a participação em torno de 80 a 100 crianças. Em 1924, por ocasião dos festejos do cinqüentenário da Igreja da Paz, foi publicado um livro em alemão gótico relatando o crescimento da comunidade, bem como sua influência na sociedade taquarense. Essa publicação está servindo como grande fonte fidedigna para esta pesquisa.

Em 1929, veio da Alemanha o pastor Hermann Schäfke. Atuou na comunidade até 1956, porém aqui residiu até sua morte, em 1962. Foi um período de muita prosperidade para a comunidade. Com o contínuo crescimento, o templo foi ficando diminuto e começou-se a pensar numa nova construção. O prédio velho foi demolido em 1934 e a nova igreja, uma imponente construção em estilo gótico, foi construída entre janeiro e setembro de 1935 (apenas 9 meses). A 10 de setembro de 1944 colocou-se o relógio na torre (carrilhão).

Outro fato marcante desse período refere-se à Escola Evangélica. Dorothea Schäfke, esposa do P. Schäfke, fundou um “Jardim de Infância” em 18 de outubro de 1931, com seis crianças sendo atendidas na casa pastoral. A escola cresceu e transformou-se no Centro Sinodal de Ensino Médio Dorothea Schäfke, que recebeu o nome de sua fundadora. Hoje atende desde a Educação Infantil ao Ensino Médio e conta com mais de 600 alunos. As primeiras notícias que temos de uma escola ligada à Comunidade Evangélica datam de 1873, num relatório escrito pelo próprio P. Dietschi: “A escola de Taquara pertencia às minhas obrigações”. Era uma Escola Alemã, dirigida pelo pastor local. Esta foi fechada (não se sabe exatamente quando). Em 1932, o P. Schäfke reabre esta Escola e ela é fechada novamente em 1939, pela imposição do Estado Novo, de Getúlio Vargas.

No cenário mundial estava ocorrendo a II Guerra Mundial. A censura começou a agir sobre esta comunidade de origem germânica e os relatos históricos começam a rarear. Com este silêncio imposto, a comunidade começou a se abster da atividade social taquarense, limitando-se a sua atividade litúrgica. O P. Schäfke, que era alemão, foi obrigado a conduzir uma Bandeira Brasileira igreja adentro e esta permaneceu durante muitos anos no interior da mesma. Foi um gesto considerado humilhante. Os cultos e todas as atividades comunitárias tiveram que ser em português e chegavam a ser vigiadas. A filha do Pastor, Rose Marie, que sabia português, ajudava-o a traduzir as pregações. Muito material escrito em alemão foi destruído. Perderam-se enormes fontes históricas. Um fato curioso: no “hall” de entrada da atual igreja, há uma placa em mármore, com uma homenagem em alemão ao P. Roos. Pertencia à antiga igreja e data de 18 de janeiro de 1874. Esta teve que ser coberta com massa e só foi recuperada (descoberta) em 1972, quando a comunidade festejou o centenário do início da construção do primeiro templo.

Após o P. Schäfke, assume a paróquia o P. Augusto Ernesto Kunert (1956 a 1960). Foi o primeiro pastor nascido no Brasil a trabalhar em Taquara. Mais tarde tornou-se Pastor- Presidente da IECLB. Foi nesta época que surgiu o programa “Hora Evangélica”, na Rádio Taquara; parece ser o programa radiofônico mais antigo na IECLB. Entre 1961 e 1965, atuou na paróquia o P. Oscar Hennig. No período compreendido entre 1965 a 1971, Taquara foi atendida por missionários da Igreja Luterana dos Estados Unidos: P. Elden Landwick, P. Robert Roiko e P. Gary Petersen.

Sucedeu-lhes o P. Ilson Kayser (até 1976). Nesta época surge outro fato relevante na história da comunidade: o início das atividades do lar geriátrico, denominado “Lar OASE”, a 1º de setembro de 1973. Foi adquirido o prédio onde funcionava o Hospital Sagrada Família. O P. em. Ernesto Fischer, que aqui residia, foi o grande incentivador e colaborador para a concretização desse projeto. Recebeu o apoio do grupo da OASE local, cujas senhoras também auxiliavam nos serviços como voluntárias. Eis o porquê do nome da instituição. O Lar OASE é um departamento ligado à Comunidade Evangélica.

Entre os párocos que atuaram em Taquara, temos ainda: P. Martim Norberto Dreher (1976-1977); P. Baldur Van Kaick (1977-1985) e P. Cláudio Herberts (1986-1996) – também atendia nesta época o P. Jair Hoch, que residia em Padilha, comunidade que pertencia à Paróquia de Taquara. Em 1996, houve uma reforma no templo Igreja da Paz, com a troca da estrutura do telhado.

Em 1996, assumiu os trabalhos na paróquia local o P. Roberto Luiz Schulz. Em 1999, foi reativado o segundo pastorado. A partir de 2 de novembro de 1999, a paróquia conta com os trabalhos do P. Valmor Haag. Devido a dificuldades financeiras, fechou-se um dos campos de trabalho e o P. Roberto transferiu-se em julho de 2002.

A partir do ano de 2000, viu-se a necessidade de reformar a torre do templo, pois se encontrava toda comprometida pela ação do tempo. Iniciou-se o trabalho com a colocação de estruturas de madeira no alto. Devido a vários fatores, a obra ficou parada. Somente em abril de 2003, reiniciou-se a reforma. A torre foi montada no solo e erguida posteriormente a 12 de dezembro de 2003. O pináculo foi restaurado e somente a 1º de abril de 2004 foi recolocado, dando fim, assim, ao episódio da torre.

E a Comunidade Evangélica de Taquara continua em sua caminhada, somando alegrias e dificuldades. A história não registra uma data específica de fundação da comunidade. Em 1972, comemorou seu 1o centenário. Na verdade, seria o centenário da colocação da pedra fundamental do seu 1o templo.

Outra data que merece atenção é 1868, quando da chegada do P. Kröhne e a reunião de 35 famílias em comunidade. Estas são consideradas, por algumas fontes, as fundadoras da comunidade local. No entanto, acreditamos ser mais viável aceitar a data de 1854 como o ano de fundação da Comunidade Evangélica em Taquara, por apresentar os primeiros registros de batismos realizados pelo P. Haesbaert, no dia 26 de julho de 1854. Acreditamos que uma comunidade cristã passa a existir no momento em que se reúne para o estudo da Palavra de Deus e a realização de ofícios religiosos. As pessoas já se reuniam em casas de famílias antes desta data, mas esse é o primeiro registro oficial que temos nos arquivos da comunidade. Assim, já contamos com mais de 150 anos de presença evangélica em Taquara.

Ainda estamos buscando dados para que possamos recuperar nossa rica história. É na busca do passado que podemos entender nosso presente e projetar nosso futuro. Rogamos a Deus que continue derramando suas ricas bênçãos sobre esta comunidade e que seus obreiros e membros continuem unidos nesta caminhada iniciada há mais de 150 anos testemunhando ao mundo a glória de Deus, o Pai.

Autoria: Elaine Miriam Haag

Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.
João 14.6
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