A herança! - Salmo 127 - Ministro Candidato Éder Behling - 24 de julho de 2021

Oração em tempo de coronavírus

23/07/2021

De que fala o Salmo 127? Ele fala da família! Nos faz refletir sobre a casa! Sim, sobre os Filhos e filhas que são a herança de Deus! Este cerne do salmo é duplamente significativo.

O salmo fala de algo muito importante no Antigo Testamento: a herança. Mas antes de confundirmos isso com a herança enquanto aquilo que alguma pessoa deixa de bens após a sua morte. Quando o Salmista fala em herança e família, ele está falando da importância do núcleo familiar, onde há aceitação, amor e respeito, e que a herança é aquilo que as pessoas recebem de Deus. Por isso, no Antigo Testamento, a terra sempre foi um tema importante, pois ela é entendida, antes de mais nada, com o “herança”. Por isso não pode ser vendida. Sendo a terra para ser lugar de trabalho e ser trabalhada, e jamais um negócio (1 Rs 21). Além de entender a terra desse modo, também o próprio povo, o próprio Israel é “herança”.

O v .3 se usa o conceito de “herança”, para fazer as pessoas recordarem o passado de seu povo. E lembraram que a elas foram concedida liberdade através de Moises e que elas, assim, puderam ir em busca da terra prometida. O que traz à tona a mais profunda das experiências históricas do povo hebreu.

Por outro lado, surpreende que a mediação concreta da “herança” venha a ser pessoas jovens, filhas e filhos. É-lhes atribuída importância decisiva, como se verifica na figura do v .4 e no mencionado no v.5. A defesa da vida é esta gente nova (v.4). E ela que sustenta o direito dos injustiçados (v.5). Desta forma, os filhos e as filhas são a mediação da presença e gratuidade de Deus. A partir disso, fica bem evidente o que o salmista quer nos dizer: que as casas bem construídas e as cidades bem guarnecidas nada valem se não tiverem em mente a “herança”, as filhas e filhos, a gente moça. Em si, casas e instituições não fazem sentido. Nosso salmo tem a lado muito humano. Não é mesmo? Ele se importa pelas pessoas, não por coisas! E é nisso que o Salmo mexe com a nossa vida.

Por isso, podemos dizer que Deus se preocupa pessoalmente pela construção das casas de seus “amados”. Pois, é o próprio Deus quem constrói as casas de seus filhos e filhas. Se os construtores trabalham na construção, e Deus trabalha na construção, então o trabalho dos construtores não é inútil. No fundo, é Deus quem trabalha, sendo ele o próprio fundamento da casa.

Também o que nos afirmas o versículo 2 é inquietante. Sendo até mesmo bem radical. Entre as pessoas que estudaram esse Salmo não são poucas as que se irritaram com essa afirmação. Pois, este versículo põe em xeque a tese de que o trabalho duro, de sol a sol, traz comida e bem-estar. Pois isso, o v.2 duvida que o trabalho, por mais árduo que seja, traga soluções. E, de fato, por mais que muitas pessoas trabalhem arduamente ainda vemos índices alarmantes de fome entre a nossa população.

O Salmo 127 condensa realidades e as correlacionam a Deus. Que precisamos agir a partir das necessidades das pessoas, dos filhos e filhas e da “herança” que Deus nos deu, o seu mundo. E assim, podemos aprender um sentido mais profundo da fé que se articula e expressa através das pessoas, onde temos a chance de compreender melhor o que é a fé. Mas isso, não acontece sem conflito ou oposição. O mundo não é algo harmonioso, nem sempre a família também o é. O mundo desse salmo conhece amigos e inimigos, sabe seus pontos fortes e fracos. Mas, é justamente ali que ocorre o agir de Deus, em meio a tais contradições. E Deus procura, desta forma, colocar o ser humano em uma nova direção, um novo rumo.

Deus quer que compreendamos o que é viver a partir da graça e da gratuidade (v.2) e da herança (v.3). O coração deste salmo bate por pessoas, pela criação de Deus, por todos os filhos e as filhas. Deus deposita toda a sua confiança em suas criaturas e em sua criação.

É por isso, que a maior herança não são bens, mas a chegada de um novo filho ou nova filha ao lar. Trata-se de uma alegria. Que ninguém pense, por um minuto, que não se entende a relevância desse momento teológico: os filhos são dados por Deus, são seu dom, sua herança. O ser humano que tem muitos filhos e filhas é como o guerreiro que tem a mão cheia de flechas. Sim, os filhos e as filhas são dádiva e dom, mas é Deus quem os dá, se os dá... “Podemos considerar esse salmo como oração de confiança em Deus, expressa em termos negativos e positivos: “sem Deus é inútil... mas Deus dá”, então teremos deixado escapar que, a rigor, o salmo não afirma, categoricamente, que “Deus dá”: a composição está suspensa sobre o inexorável tempo-modo condicional: se Deus não, então é em vão. Convenhamos que haja formas mais claras, diretas e inequívocas de se dizer “Deus dá”, declaração que, nesses termos, o Salmo 127 não faz. Tudo aí é condicional. Tudo o que Deus tem a dar está inexoravelmente preso a uma condição. A condição de continuarmos sendo os seus filhos e suas filhas e a vivermos a sua herança de amor e respeito.

Baseado em:

SCHWANTES, Milton. A herança de Javé: meditando o Salmo 127. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 27, n. 2, p. 175-180, 1987.

RIBEIRO, O. L. O risco de não ir a Jerusalém. Lendo o Salmo 127 no contexto dos Salmos 120-134. Horizonte - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, Belo Horizonte, v. 16, n. 49, p. 166-193, abr. 2018.   


Autor(a): Ministro Candidato Éder Behling
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Oração
ID: 63772
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