E onde estava Deus?

30/11/2007

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Nas últimas semanas a região noroeste do Rio Grande do Sul tem vivenciado uma série de acontecimentos novos. A natureza manifestou-se de uma maneira que não estávamos acostumados. Fortes ventos e chuvas de granizo destruíram telhados, arrancaram árvores, trouxeram prejuízos à agricultura e assustaram as pessoas, provocando inclusive uma morte.

Ao que se dizia de que “de tempo em tempo fenômenos assim acontecem”, ficou constatado que a freqüência dos temporais não foi um fato ocasional ou isolado. É mais do que isso. Sinais de tempos mais difíceis na nossa relação com a natureza?

Nos primeiros contatos com as pessoas, tanto aqui em Três de Maio e em municípios próximos, surgiram algumas perguntas e questões do “por que?” Há uma explicação lógica, científica para os eventos? A natureza está reagindo por toda a nossa intervenção depredadora? Ou a questão é de cunho religioso: Deus está nos testando, ou estará nos castigando? Qual a lição que podemos tirar dos acontecimentos?

É sempre mais fácil a gente especular a respeito de Deus em situações de perdas, de catástrofes, do que assumir uma posição mais crítica e de responsabilidade em relação a nós mesmos e às nossas atitudes de intervenção na natureza. A mudança do clima é uma temática atual para a humanidade. Mas ninguém sabe ao certo quais serão seus efeitos ou a gravidade destas mudanças. Há inclusive uma ciência da mudança do clima. Fazer alguma coisa sobre essa ameaça parece ser complicado e difícil. Ela está cercada de divergências sobre se realmente existe algum problema: enquanto muitas pessoas se preocupam achando que os efeitos serão extremamente sérios, outras ainda argumentam que os cientistas não podem provar que o que eles suspeitam que venha a acontecer, realmente aconteça. A Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima desde 1992 enfoca um problema especialmente inquietante: nós estamos mudando a forma com que a energia solar interage com a atmosfera e escapa dela e corremos o risco de alterar o clima global. Entre as conseqüências possíveis, está um aumento na temperatura média da superfície da Terra e mudanças nos padrões climáticos. É o que os meteorologistas afirmam estar ocorrendo em nossa região.

Onde fica então a questão religiosa tão importante e central na maneira com que as pessoas fazem a leitura dos acontecimentos? Onde estava Deus durante o vendaval? Com certeza não estava no forte vento que arrasou casas, derrubou árvores e amedrontou as pessoas mexendo com suas seguranças. Assim como não estava no vento forte que rachou os morros e quebrou as rochas em pedaços na história do profeta Elias (I Rs 19.11-13). No texto em questão, Deus se revela em uma suave brisa. Os Evangelhos vão revelar que Deus está na fragilidade da criança recém nascida em Belém e na fraqueza do crucificado. Se Deus estava de fato em algum lugar, Ele estava com as pessoas que prudentemente se encontravam em suas casas. Estava com as pessoas que perderam bens, ficaram sem telhados, viram paredes ruírem. Pessoas que sofreram perdas materiais. Umas mais outras menos. Perdas materiais que foram possíveis recuperar onde a situação financeira o permitiu. Outras tantas famílias dependeram e continuam a depender da ajuda governamental ou da solidariedade de suas comunidades locais. Enfim, em meio às situações de perdas impôs-se a força da vida, o encanto pelo humano com a força da solidariedade. Ali com certeza estava e continua a estar Deus.

Diante desses acontecimentos aprendemos que as perdas materiais passaram a ser perdas menores, pelo fato de que a vida foi protegida. Resgatamos a prática da solidariedade, do cuidado com os outros. Solidariedade e cuidado, características do Deus que se revela em Jesus Cristo. Entre as perdas, houve um grande ganho. Fomos capazes de nos ocuparmos e nos preocuparmos com os outros. Aprendemos a ficar mais alertas aos sinais da natureza. Foi lançado um alerta. A própria voz de Deus nos sussurra que devemos estar envolvidos num processo de educação crítica na maneira como interagimos com a natureza e em relação às mudanças climáticas. A natureza não é nossa inimiga. Ela está viva e sofre em dores pela intervenção humana tantas vezes nociva e depredadora.

 

P. Sinodal Renato Küntzer


Autor(a): Renato Küntzer
Âmbito: IECLB / Sinodo: Noroeste Riograndense
Área: Sustentabilidade / Nível: Sustentabilidade - Justiça socioambiental
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8219
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