Deem fruto! III

Se devemos dar fruto, pensemos em longanimidade, benignidade e bondade

05/07/2020

Gl 5.22-23
20200705 - Rio

Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, o Pai, e a comunhão do Espírito Santo seja com vocês. Amém.

Prezada comunidade.

Temos falado do fruto do Espírito, como um fruto único e indivisível. O Espírito de Deus age como, onde e quando quer — porque é Deus agindo — e faz da Palavra escrita uma força criadora de vida que explode de formas variadas diversificando a vida da Igreja de Cristo.

João 15.16 nos comunica: “Eu escolhi vocês para que deem fruto” As palavras de Jesus são nosso lema de trabalho para 2020. Em Gálatas 5, o fruto do Espírito Santo é descrito no detalhe. Depois de termos falado ápice deste fruto, o amor, e depois de termos analisado a sequência da alegria e paz, falamos hoje sobre três resultados naturais do amor que o Espírito Santo separa: longanimidade, benignidade e bondade.

Você já deve ter feito a leitura de 1 Coríntios 13, o hino ao amor. Pode parecer um texto romântico — e é — mas este recado de Paulo tem profundas implicações práticas na vida pessoal e comunitária do. cristão. Tomando por base as duas primeiras definições – ‘O amor é paciente, é benigno’ (v. 4) – percebemos que Paulo usa a expressão para demonstrar, para contrastar com o egoísmo e orgulho que surge quando se quer ser e saber mais que Deus. Já em Gl 5.6 vemos que somente a fé pode atuar de maneira eficaz no amor, através do servir.

Por esta razão falaremos hoje da longanimidade, benignidade e bondade como resultado de um coração aquecido pelo ES.

Longanimidade

Makrothymia é o termo grego que expressa longanimidade. A pessoa que suporta as adversidades e avança, apesar dos obstáculos, a pessoa que despreza as ofensas, está em sintonia com o amor de Deus e é longânima. É o amor infundido pelo Espírito Santo que dá o fôlego necessário para viver de forma resiliente as adversidades.

Prezada comunidade, isso não significa que devemos ter, como dizem, sangue de barata para suportar tudo calado. Há um conceito teológico bastante complexo por detrás desta makrothymia. Martin Luther falou sobre “obra própria” — a obra do amor e “obra alheia” — obra da ira. O lúcido teólogo K.D.Schmidt explica:“O amor é proprium opus Dei (obra própria de Deus). Mas este amor oculta-se atrás da opus alienum (obra alheia), a ira. E isto não é só aparência. Deus se ira mesmo. Mas é também, realmente, a ira do amor” (citado por W.Lohrmann). A persistência diante da injustiça, sem perder a afabilidade, não exclui a ira e a atitude ríspida a enfrentar o erro.

É através da longanimidade que se alcança a conversão — a própria e a dos outros — conforme elucida novamente Paulo quando escreve aos Romanos: “Ou será que você despreza a riqueza da bondade, da tolerância e da paciência de Deus, ignorando que a bondade de Deus é que leva você ao arrependimento?” (2.4 NAA)

Benignidade

Chrestotes. “Quando o milagre é muito, até o santo desconfia.” Este ditado popular é muito oportuno para nossos dias. Com tanta corrupção brotando nos quatro cantos do País, a gente acaba desconfiando de alguma notícia boa, de alguma benevolência feita pelos que elegemos para nos governar. A qualidade atribuida à pessoa benigna é a bondade, da qual falaremos a seguir. A benignidade é a forma através da qual uma pessoa se torna bondosa. A benignidade é o veículo condutor da bondade. Por isso onde a bondade é muita, acaba levantando suspeitas porque o caminho para se alcançar o fruto pode estar corrompido.

No Reino de Deus os fins não justificam os meios, nunca! “4 Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor por todos, 5 ele nos salvou, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, 6 que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador.” (Tito 3) Esta benignidade conduz a pessoa batizada à bondade de forma natural e sincera.

Bondade

Agathosyne é o próximo termo. Bondade. Algumas religiões e sistemas filosóficos afirmam que o ser humano é bom por natureza. Dentro de um conceito de afabilidade e empatia, é realmente isso que gostaríamos que fosse verdade. Olhando para os conceitos bíblicos, porém, não sobra nada de bom no ser humano. Isso é chocante! Justamente por este conceito é que a bondade é uma das qualidades do fruto do amor que o Espírito Santo.

A bondade de Deus foi ignorada quando o ser humano optou em desobedecer a ordem divina dado no Éden. E Deus, em Sua ira, isolou o ser humano da Sua bondade. O ser humano foi avançando e avançando em seu intuito de ser mais que Deus, culminando com o castigo do dilúvio. A raiva de Deus — a obra alheia —, no entanto, foi suplantada pela obra própria”, Seu amor.

Após o Culto oferecido por Noé, ao aspirar o aroma da oferta, Deus afirmou: “Nunca mais vou amaldiçoar a terra por causa das pessoas, porque é mau o desígnio íntimo do ser humano desde a sua mocidade.” (Gn 8.21)

Mesmo que os textos bíblicos não considerem o ser humano capaz de melhorar, ou justamente por isso, Deus lança Sua bondade na vida da humanidade esperando, nessa semeadura, que “corações-solo-fértil” se tornem bondosos e generosos como o Criador o é. Na sua carta aos Efésios Paulo fala do fruto da luz — em termo análogo ao fruto do Espírito — e afirma que o fruto da luz consistem em toda bondade, justiça e verdade” (5.9).

Cristãos de caráter espiritual são capacitados para desmascarar o que teme a luz. Bondade não mais seria bondade se quisesse ser [não verdadeira] ou [injusta]. Veracidade e justiça degenerariam para dureza legalista e negariam [o amor] (cf. Ef 5.1ss.), se não viessem acompanhadas da bondade de Deus.” (W.Lohrmann)

Prezada comunidade:
“Eu escolhi vocês para que deem fruto”, nos fala Jesus pessoalmente. É bom saber que, como seus discípulos, estamos livres para reagir indignados com o que é injusto e mentiroso em nossa sociedade. Evidentemente não precisamos retribuir o mal com mal, mas podem vencê-lo fazendo o bem. “Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem.” (Rm 12.21). Isso é agir com bondade pelo canal aberto da benignidade e exercido em longanimidade.

Amém. 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 57609
REDE DE RECURSOS
+
Quem persiste na fé, verá, ao final, que Deus não abandona os seus.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br