Deem fruto! II

Se devemos dar fruto, pensemos na alegria e na paz

21/06/2020

João 15.16, Gálatas 5.22

Deem fruto! II

Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, o Pai, e a comunhão do Espírito Santo seja com vocês. Amém.

Prezada Comunidade.

Na semana passada falávamos do fruto do Espírito, como um fruto único e indivisível O Espírito de Deus age como, onde e quando quer — porque é Deus agindo — e faz da Palavra escrita uma força criadora de vida que explode de formas variadas diversificando a vida da Igreja de Cristo.

O fruto é integrador

Continuaremos falando deste fruto encabeçado pelo conceito do amor de Cristo em nós. Em Gálatas 5, onde o fruto do ES é descrito, sem rodeios e sem medo o apóstolo Paulo denuncia o pecado que envolve a todos nós, inclusive a Igreja. É um pano de fundo sombrio e tenebroso que persegue o povo cristão por causa da ação do pecado. Fala do abuso com o dom criador da sexualidade em relações sexuais extraconjugais, na prostituição, relações homossexuais, na imoralidade. Paulo giualmente fala sem rodeios da idolatria e todo comportamento ligado ao ocultismo, aos cultos pagãos, que se caracterizam como aqueles onde a criatura é honrada em lugar do Criador (Rm 1.22-25).

Continua falando das inimizades, brigas, partidarismos — que acabam criando isolamento, insegurança, fobia social, acessos de cólera, ganâncias, invejas e, por fim a última consequência, homicídios.

É lamentável ter que observar que justamente dentro das Igrejas o fruto da carne se evidencia com tanta força, de tal forma que lideranças cristãs se tornam fonte de ódio, prejudicando o ministério de seus pares e tornando-se verdadeiros predadores da libertade evangélica. Tudo porque não querem perder seu estrelismo.

O contraponto — sempre é necessário o contraponto para que se possa fazer as escolhas libertadoras do Evangelho — fala que o fruto do amor se desdobra em qualidades, em aspectos positivos. Por esta razão falaremos hoje da alegria e da paz como resultado de um coração aquecido pelo ES.

O fruto é alegria

O termo alegria (chairo) está fundamentalmente relacionado à ação de Jesus Cristo em favor da comunhão dos santos. Jesus pergunta aos discípulos de João Batista ao questionarem sobre o jejum: “Como podem os convidados para o casamento estar tristes enquanto o noivo está com eles?” (Mt 9.15). Diante da perseguição desferida contra pessoas cristãs, Jesus igualmente responde: “Alegrem-se e exultem, porque é grande a sua recompensa nos céus” (Mt 5.12). Com a mesma forma escatológica de se referir à alegria, o evangelista João aponta: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e terminar o trabalho que ele me deu para fazer. (…) … tanto o que semeia como o que colhe se alegrarão juntos.” (Jo 4.34, 36)

A alegria, a verdadeira, está em viver de acordo com a condução do Espírito Santo de amor que se desdobra em satisfação, felicidade e júbilo.

Como destaca o autor Walter Lohrmann*, o “amor que brota do Espírito guarda o cristão de contentar-se com prazeres baratos e com entusiasmo” banal e apenas emocional (ou, como se vê cada vez mais, com a alegria química!), “assim perdendo-se na embriaguez de pseudo-alegria (Lc 16.19; 1Jo 2.17)…”. “Não se entristeçam, porque a alegria do Senhor os fortalecerá”, “a alegria no Senhor é a nossa força”, encontramos em Neemias 8.10. A alegria em Cristo é entusiasta e exuberante; não é uma alegria contida, mas “sobriamente clara, e, como tal, sinal da intervenção reconciliadora e criadora de Deus. (…) é poder formador da fraternidade (2Co 1.14; Rm 12.14). A agape de Cristo é premissa e possibilidade de alegria não-turbada, perfeita, imperecível (Jo 15.9-11; Jo 16.22). Ela é força revolucionária que mesmo no sofrimento não [vai] deixar se derrotar (2Co 7.4; 1Pe 4.13; Hb 10.34)”.

Somente esta alegria consistente em Cristo Jesus, como fruto da ação do ES, poderá trazer paz. Sim, o fruto do Espírito Santo, que é o fruto do amor, revela a paz, depois da alegria.

O fruto é paz

Do ponto de vista da filosofia, especialmente Platão, em uma rápida pesquisa, se percebe que a paz que denota uma conduta serena se rende ao amor, à fraternidade. Paz é consequência do amor, da mesma forma como a alegria sincera e verdadeira.

Paz é oposto à desordem porque Deus é paz e Deus é ordem (1Co 14.33). Paz é consequência natural da ação divina e, como parte do fruto do ES, a paz “comprova de modo especialmente claro que, em tudo que Deus permite que cresça e amadureça, não se trata de qualidades humanas elevadas, não de virtudes purificadas, mas de algo completamente novo.” (W.Lohrmann).

Em um mundo que clama por paz, por ordem, o que o Espírito Santo deixa como legado é algo bem diferente que normalmente imaginamos por ausência de conflitos (Jo 14.27; Fp 4.7). A ação pacificadora inusitada do ES deixa como resultado não uma “paz apenas na aparência, em que as armas estão silenciosas e não existem lutas evidentes, mas que, no fundo, é uma paz repleta de desarmonia e conflitos. O alvo do amor transformador de Deus é, justamente, a discórdia intranqüila das pessoas consigo mesmas, bem como entre si, tanto em coisas insignificantes como importantes”.

“Quem se deixa convencer pelo Espírito Santo (Jo 16.8), quem confessa sua falta de paz como pecado, será presenteado com segurança cheia de paz. Aí esta pessoa pode permitir que tal paz (schalom em hebraico), que veio com Jesus e que tudo abrange, se torne eficaz, levando-a para dentro do mundo de modo convincente, com ímpeto missionário (Hb 12.14; Rm 12.18)“.

O fruto que queremos dar oportunidade a produzir em nossa vida, a partir do tema da nossa Igreja para 2020 Viver o Batismo e do lema bíblico Eu escolhi vocês para que deem fruto, tem abrangência pessoal e comunitária. Não há como viver em paz consigo mesmo se não consigo ter paz com o mundo que me cerca e, não por último, se não consigo ter paz com Deus. Como podemos ter paz se perdemos a alegria? Como podemos ser alegres se nos falta o amor?

A mudança pode começar a acontecer hoje

“Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa.” “E, para todos que seguem essa regra na sua vida, que a paz e a misericórdia estejam com eles e com todo povo de Deus!” (2Co 5.17a; Gl 6.15). Cristo Jesus é o mediador desta paz e a traz até nós.

Podemos hoje começar a exercitar este fruto do amor que se desdobra em alegria e paz. Não se trata de um exercício egoísta de procura por paz e alegria pessoal, mas sim de ação responsável e equilibrada neste mundo de tristezas e desordem. O que precisamos fazer? Crer! Damos concreticidade ao nosso crer quando entregamos a nossa vida, nossos caminhos, a Jesus. Já o admitimos como consequência de nosso batismo? Podemos fazer isso agora. Ore ao Senhor e peça Sua condução para sua vida.

Amém!

Citações: Lohrmann, Walter. FRUTO E DONS DO ESPÍRITO SANTO. Ed. União Cristã. (versão digitalizada) 

Crédito da foto: pexels stock
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 57358
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Martim Lutero
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