Da decisão

Artigo

15/10/2004


Nas eleições municipais, participamos da decisão pelo voto. A decisão tomada contempla nossa proposta de sociedade que almejamos. A decisão é pelo projeto que mais se aproxima de nosso sonho de sociedade. Sim, nossa decisão não deveria ter sido apenas apenas decorrente da simpatia ou amizade que sentimos pelas pessoas que se propõe estar à frente da administração de nossas cidades..

A decisão deveria contemplar nossa compreensão de vida, de mundo. A pergunta sobre essa decisão é: que tipo de projeto de vida defendo? Sim, é importante que se faça essa reflexão, pois creio que muitas vezes acabamos defendendo somente os projetos concebidos por outros, que os fazem para nos conquistar ou agradar através de sua proposta ou até por seu carisma e simpatia pessoal.

Como cristãos, por muito tempo, fomos influenciados pela idéia de que não se deve tomar partido e muito menos se envolver nos processos eleitorais. Devo dizer que essa postura carrega uma decisão. Essa decisão tem a força de neutralizar nosso projeto de sociedade. Não existe posição neutra. Ao nos eximirmos da decisão, abandonamos nosso sonho de sociedade. A conseqüência disso é que nosso projeto não aparece.

Nosso projeto, como cristãos, já está traçado em Cristo Jesus. Pela fé, temos um caminho. A decisão de Deus de enviar seu filho ao mundo definiu claramente seu projeto de vida. E somos convocados a percorrer esse caminho. O seguimento é uma questão de decisão: Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus(Rm 12.2).

Deus não se conformou com a realidade que deformou a vida humana e tomou uma decisão. Seguir o caminho de Deus e fazer com que nossa decisão, especialmente no processo de escolha, possa contemplar o projeto de vida que inclua toda a criação de Deus. Pois todos nós fomos enviados para sermos administradores da boa dádiva do Criador. Portanto, escolher administradores que não contemplam o projeto do cuidado da vida em sua integralidade não é coerente com o princípio do Evangelho.

O princípio do cristão não pode ser o do não-envolvimento; somos, antes, convocados a não nos conformar com aquilo que se apresenta contrário à vida. Somos convidados a olhar para a vida de nosso povo, ouvir seus clamores, compadecer-se de seu sofrimento, olhar a realidade e encontrar formas de transformar o mal em bem, a partir de nosso próprio renovar diário.

Já defendemos nossa opinião com a participação no ato do voto. E agora? Passado esse processo da decisão pelo voto, qual é forma de envolvimento que nos propomos? Será que estamos dispostos a ajudar a construir o espaço da cidadania em nossa saciedade? Ou vamos esperar mais quatro anos, para participar de mais um evento esporádico, ou vamos nos engajar e buscar construir o espaço que nos cabe de direito no processo da construção da vida digna em nosso meio?

Sisi Blind
vice-pastora sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
pastora da Paróquia de Curitibanos
em Curitibanos - SC

Jornal ANotícia - 15/10/2004

 


Autor(a): Sisi Blind
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Texto: Artigo
ID: 8060
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