Catecismo Maior - apresentação

11/09/2013

Estamos em plena contagem regressiva para celebrar o quinto centenário da Reforma, em 2017. Nada mais apropriado do que reiterar as razões de nossa fé e renovar nosso testemunho do Evangelho a povos e nações. A Editora Sinodal e a Editora Concórdia querem colaborar com essa celebração por meio da publicação desta edição do Catecismo Maior, do reformador Lutero. Trata-se de uma nova tradução do texto alemão de 1529, tão fiel e qualificada quanto a publicada nas edições do Livro de Concórdia (1980) e de Martinho Lutero: Obras Selecionadas, volume 7 (2000), mas que provavelmente será considerada mais acessível em termos de linguagem pelo público leitor não acadêmico. O objetivo de facilitar a compreensão do Catecismo Maior é reforçado pela inclusão da introdução histórico-teológica e de uma seleção das notas explicativas presentes em Obras Selecionadas.

Por que uma pessoa, uma família ou uma comunidade deveria hoje, no universo de fala portuguesa do século XXI, estudar o Catecismo Maior? Deixemos que Lutero nos auxilie a responder a essa pergunta. Ao explicar o primeiro mandamento, ele escreve: “Que significa ter um Deus, o que é Deus? Resposta: Deus representa aquilo do qual se deve esperar todo bem, dele se socorrendo em todos os apertos. Ou seja, ter um Deus não significa outra coisa senão crer e confiar nele do fundo do coração”. Lutero vê aqui uma relação entre Deus e as pessoas na qual a fé cumpre um papel fundamental. A fé envolve diferentes dimensões em nossa vida. Queremos destacar três delas, associadas ao conhecimento, à vontade e à confiança. Elas correspondem à tríade informação, orientação e experiência. Como posso conhecer, querer e viver a fé?

Na fé cristã, o conhecimento relaciona-se, em primeiro lugar, à tradição bíblica e confessional. Antes e acima de tudo, a fé tem por referência a Escritura Sagrada, a narrativa da ação de Deus em relação à humanidade no Antigo e no Novo Testamentos. Além disso, relaciona-se aos testemunhos de fé da igreja antiga, dos reformadores em seus escritos confessionais e mesmo de gerações posteriores de cristãos, desafiados a proclamar sua fé nas mais diferentes situações. O Catecismo Maior foi reconhecido pelos herdeiros da Reforma evangélico-luterana – e mesmo por cristãos de outras confissões – como uma exposição fiel e adequada da tradição bíblica e cristã. Neste sentido, também reflete o nível da fé como conhecimento, ao expor de modo profundo, mas ao mesmo tempo simples e prático para a vida diária do cristão, os Dez Mandamentos, o Credo Apostólico, o Pai-Nosso, o Batismo, a Ceia do Senhor e a Confissão e Absolvição. As afirmações básicas da tradição têm grande significado para os cristãos, pois são referências que os habilitam a julgar e avaliar o que em cada época é pregado em nome do Evangelho, distinguindo a pregação fiel à Palavra de movimentos religiosos perniciosos e suas promessas ilusórias.

Em segundo lugar, nossa fé está relacionada à vontade. Vontade refere-se aqui a reconhecimento e decisão. Cada pessoa pode decidir se irá ou não dar atenção ao assunto fé. Cada um de nós pode decidir se as questões relativas a Deus, à busca de sentido para a existência, a valores, convicções e normas para o agir serão relevantes ou não em sua vida. Nossa vontade, no entanto, define como conduzimos nossa vida religiosa e espiritual. É nossa vontade que determina se nós – individualmente, em família, ou em comunidade – meditamos de modo sistemático e frequente na palavra de Deus e nos dirigimos a ele em oração. Nossa vontade é desafiada, quando cogitamos, em meio à rotina frenética do dia a dia, separar ou não um breve tempo para refletir sobre Deus e o sentido de nossa existência. Resultará disso uma fé profunda e autêntica? Eis algo que não podemos determinar. Quem, no entanto, nada faz em favor de sua vida espiritual e negligencia deliberadamente as coisas da fé, este abre mão, em seu nome e em nome dos seus, da oportunidade de encontrar na fé a referência fundamental para sua existência.

A fé, por fim, também está relacionada a uma dimensão que, na verdade, corresponde a seu núcleo central: a confiança. Primeiramente, a confiança pessoal em Deus, pela qual nos voltamos a quem é a origem da vida. Em comunhão com Deus, conduzidos pela confiança nele, somos plenamente acolhidos naquele que é nosso último refúgio. Pela confiança em Deus, vivenciamos o firme fundamento, sobre o qual somos conduzidos seguramente em meio a incertezas. Na Escritura Sagrada, temos a promessa da bondade e misericórdia de Deus.

O conhecimento a respeito dos conteúdos da fé, a vontade para ocupar-se com as coisas da fé e a disposição para receber o suporte e o amparo da tradição bíblica e cristã são possibilidades abertas a todos. Viver, contudo, a confiança em Deus de coração é algo que não podemos alcançar por nossa própria aptidão, esforço ou vontade. Pois quem dá vida a palavras, rituais e práticas litúrgicas é exclusivamente o Espírito de Deus.
Pastor Dr. Ricardo Rieth na apresentação do Catecismo Maior
 

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Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
Tiago 2.17
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