Aprendemos e ensinamos pelo exemplo!

A oração como fonte de espiritualidade

28/07/2013


Em minha infância, morávamos em Minas Gerais, num clima quente como o de Mato Grosso. Nossa mesa de refeições ficava na varanda. Após a oração de mesa, a mãe e o pai serviam a irmã menor e nós três, de uma família de quatro filhas, íamos passando as vasilhas de alimento, de mão em mão, de modo a que todas nós pudéssemos nos servir igualmente. Ninguém precisava levantar-se e esticar-se sobre a mesa para alcançar algum alimento e todas nós éramos bem servidas. Hoje, ainda, ao sentar-me à mesa, sempre lembro de verificar se todas as pessoas conseguiram se servir do que está à minha frente! Conto algo da minha infância para dizer que nós aprendemos, realmente, pelo exemplo!


Assim aconteceu com os discípulos de Jesus. Eles estavam em algum lugar que o texto não explicita, quando Jesus retirou-se para orar. Ele sempre fazia isso; disso nos dá testemunho diversas passagens nos Evangelhos. Às vezes Jesus orava por um longo tempo; às vezes não. Os discípulos observaram Jesus. Sendo eles de origem judaica, também tinham o hábito da oração, visto que todo “bom” judeu deveria orar pelo menos três vezes ao dia. Mas havia algo profundamente diferente na postura de Jesus ao orar; algo que lhes chamou a atenção.


Na oração Jesus alimentava sua espiritualidade. Ao conversar com Deus certamente ele agradecia (por exemplo, quando tomou os pães e os peixes das mãos de um menino ele primeiro agradeceu a Deus antes de distribuí-lo às pessoas famintas). Certamente também Jesus colocava todo o seu ministério de pregação diante de Deus intercedendo pela força necessária para continuar ensinando sobre o Reino de Deus e amando as pessoas, acima de tudo.
 

Os discípulos sabiam que João Batista havia ensinado seus discípulos a orar. Por isso, quando Jesus retornou de onde estava orando, um dos discípulos pediu a Jesus, em nome do grupo: “Senhor, ensine-nos a orar!” A primeira preciosidade deste acontecimento testemunhado pelo Evangelista Lucas já está aqui: NÓS ENSINAMOS E APRENDEMOS PELO EXEMPLO. Assim foi conosco; assim é com nossas crianças e jovens; assim foi com os discípulos de Jesus.A atitude de Jesus chamou sua atenção e também eles quiseram aprender esse jeito de orar que era próprio de Jesus; quiseram beber desta fonte de espiritualidade de onde o próprio Jesus se alimentava!


Por isso ao iniciarmos o culto perguntei sobre nossas vivências acerca da oração. (1)Nós aprendemos a orar observando outras pessoas ou quando, (2) repetidas vezes, alguém se colocou ao nosso lado, a noite, por exemplo, antes de adormecermos, e orou conosco. Em muitas destas situações, também na igreja, em grupos menores especialmente, quando oramos uns pelos outras, umas pelas outras e por muitas outras pessoas, de perto ou de longe, de mãos dadas, a oração se dá em meio a demonstrações de afetividade, de carinho. Mais amoroso ainda é quando tiramos tempo, a noite, para orar com nossas crianças (filhas ou filhos, netos, sobrinhas) e colocamos suas mãozinhas entre as nossas. O amor de Deus, para quem nós estamos orando, é sentido por nossas crianças através do carinho que nós transmitimos segurando suas mãos entre as nossas!
A oração nos permite essa proximidade amorosa com Deus! Nós nos sentimos amparados, cuidados por quem está conosco orando e, especialmente, por Deus. Dessa espiritualidade amorosa, diferente do que estavam acostumados, os discípulos de Jesus quiseram tomar parte. Por isso pediram: “Jesus, ensine-nos a orar!”


E Jesus prontamente se pôs a dizer: Orem assim: Abba (Paizinho, em português!). Diferente da visão de Deus que se conhecia entre o povo de Deus, Jesus ensinou aos discípulos a dirigir-se a Deus de forma carinhosa. Ao dizer Paizinho Jesus estava lhes permitindo falar com Deus com intimidade e proximidade. Diante de um Deus que se entende ser distante, temível pelo seu poder, fiscalizador, certamente a conversa seria formal e carregada de receio (ninguém exporia seus sentimentos a um Deus assim); mas diante de um Deus que está conosco, que permite ser chamado de forma carinhosa – seja paizinho, seja mãezinha, seja de “querido Deus”, como nós costumamos dizer em nossas orações – nós conseguimos falar do que passa em nosso coração: de nossas alegrias, de nossas dúvidas e frustrações, de nossas inseguranças e, mesmo, dos temores mais profundos.
Jesus ensina aos discípulos a oração que hoje chamamos de PAI NOSSO. O Evangelista Lucas a apresenta de forma resumida; Mateus a traz completa assim como nós oramos. Na oração do Pai Nosso o nome de Deus é louvado: “Santificado seja o teu nome!”. Assim também faziam os judeus. A diferença na oração que Jesus ensina é o olhar que supera o egoísmo, que não vê somente a si próprio, que não olha somente para o próprio umbigo, mas vê mais longe, vê o irmão e a irmã no horizonte: O Pai é NOSSO; Jesus ensina a pedir pelo pão NOSSO, a DÍVIDA para com Deus é nossa porque ninguém é tão bom que não tenha pecados e não careça do perdão de Deus e, por isso mesmo, ninguém pode negar-se a perdoar a outra pessoa. Esse é a novidade da oração em Jesus: além da proximidade estabelecida com Deus em oração o conteúdo da oração é novo!
Jesus nos ensina que na oração somos livres. A oração transcende a minha família, a comunidade cristã a qual eu pertenço, os limites de fronteiras geográficas estabelecidos entre os países.


Orar não significa apenas agradecer e pedir. Pedir algo a Deus em oração significa comprometer-se a agir de acordo com o nosso pedido! Isso é fundamental que nós compreendamos. (1)Se peço que Deus me perdoe, preciso estar disposta a perdoar. (2) Se peço que ele nos conceda o pão – tudo o que necessitamos para viver – preciso estar disposta a repartir deste pão que Deus tem me concedido! Assim Deus age; à sua semelhança nós somos convidados a agir!
 

É disto que fala a parábola de Jesus: Recontar e enfatizar a ação bondosa de Deus: “Peçam e receberão; procurem e acharão; batam, e a porta se abrirá” – diz Jesus. Jesus quer nos animar a orarmos, sempre, sem cessar, insistentemente, persistentemente, porque Deus ouve seus filhos e suas filhas. Isto não quer dizer que Deus atenda sempre as nossas orações. Certamente, em muitas ocasiões, nossos pedidos não são acertados; talvez em outras ocasiões precisamos ter paciência; talvez aconteça diferente do que a gente pediu para que Deus evite ainda um mal maior. Também Jesus sabia que nem todas as suas orações seriam atendidas. Já na cruz ele disse: (Mateus 26.36-44) “...se é possível, Pai, afasta de mim este cálice”. Jesus morreu na cruz, mas Deus o ressuscitou. A resposta de Deus, ao final, sempre será uma resposta de amor e de vida.


Encerro lembrando da JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE: Os meios de comunicação nos mostraram milhares de pessoas jovens católicas de dezenas de países reunidas ouvindo a palavra de Deus e meditando nela, orando por pessoas deficientes auditivas, por pessoas com dependência química, por pessoas empobrecidas em função do sistema... A Juventude busca vivência profunda e comprometida de espiritualidade. Vamos dar o exemplo, também entre nós! Amém.


 


Autor(a): Scheila dos Santos Dreher
Âmbito: IECLB / Sinodo: Mato Grosso / Paróquia: Parecis (Campo Novo do Parecis-MT)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 24052
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Romanos 8.39
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