“De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jeremias 31.3).
Geralmente, chamamos de “teimosa” a pessoa que não se deixa questionar e que pensa sempre ser dona da verdade. No entanto, “teimosia” também possui o significado de “obstinado, persistente”.
Pensando assim, a teimosia faz parte do jeito de Deus. Em toda a Bíblia vemos que, apesar do ser humano ter dificuldade de permanecer fiel a Deus, Este não desiste, querendo salvá-lo sempre de novo.
No Antigo Testamento nos deparamos com o povo de Israel, o povo escolhido e amado por Deus. Um povo que muitas vezes se deixou levar pelas idéias apresentadas por falsos profetas, um povo que prestou culto a falsos deuses, um povo que desobedecia a Deus. Por outro lado, vemos um Deus de misericórdia que incansavelmente ouve o clamor do seu povo arrependido e perdoa seus males. Por isso Deus, que sempre acompanhou o seu povo diz: “Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jeremias 31.3). Esta é a teimosia de Deus: o seu amor eterno.
Lembro-me que em minha infância, era costume colher uma flor de margarida e tirar pétala por pétala, com uma pessoa em mente, dizendo: “Bem me quer, mal me quer”. E como doía quando a última pétala dizia “mal me quer”!
Num certo dia, uma criança entrou correndo em sua casa soluçando. “O que aconteceu, querida?”, perguntou a sua mãe. Jogando-se nos braços da mãe, ela chorou: “Deus não me ama mais”. A mãe lhe assegurou: “Mas é claro que Deus ainda te ama”. Mas a criança soluçava: “Não, eu sei que não, porque eu fiz o teste da margarida!”.
Como cristãos, não precisamos colher margaridas para isto, mas podemos ter a firme certeza de que Deus ama a cada um de nós como se só existisse uma única pessoa para amar. Somos especiais para Deus a tal ponto de sermos criados à Sua imagem, conforme à Sua semelhança. Somos a coroa da criação de Deus, a Sua obra prima. Por isso Deus é teimoso em manter o Seu amor para conosco.
À semelhança do povo de Israel, muitas vezes em nossa vida, tentamos caminhar com “nossas próprias pernas”, ouvindo todo tipo de falsas vozes que estão ao nosso redor, calando assim a verdadeira voz de Deus. E Deus, a partir do Seu imenso amor, dirige-se também a nós e nos conclama a nos arrependermos. Por isso, Deus nos ama não pelo que somos, mas por quem Ele é.
Nosso reformador Martim Lutero certa vez disse: “Mas eis que Deus vem, procura com paciência, encontra e leva-nos de volta a Ele, ou seja, por meio da Palavra e Sacramento, Deus nos leva de volta a cristandade, dá sua vida por nós e conserva-nos no caminho certo. A única coisa que podemos fazer é espichar nossas orelhas, ouvir e receber com gratidão esse extraordinário tesouro, bem como aprender a reconhecer nitidamente a voz de Deus, seguindo-a, não dando ouvidos a vozes estranhas”.
Que Deus possa nos abençoar e nos guardar, que Ele abra nossos corações e nossas mentes para a Sua Palavra. E que nós possamos ser gratos a Deus, por Ele teimar em querer sempre de novo nos alcançar e nos abraçar em Seu amor.
P. Charles Werlich – Pastor da IECLB na Área Missionária Leste de Minas Gerais e
Extremo Sul da Bahia - Serra dos Aimorés/MG