Prédica: 1 João 4. 7-21.
No ano de 1921 aconteceu um grande incêndio nas florestas do Himalaia. Muita gente olhava o fogo. Uma senhora perguntou a algumas pessoas que estavam com o olhar fixo em uma árvore: “Que é que vocês olham tão admirados?” Apontaram-lhe então um ninho de pássaros em uma árvore que queimava. Acima do ninho voava um pássaro adulto em grande aflição. Minutos depois o ninho começou a queimar. Todos disseram: “agora a mãe vai fugir!” Mas, pelo contrário, ela deu um último voo para baixo e, estendendo suas asas abertas sobre os três filhotes, baixou sobre o ninho. Em poucos minutos tudo terminou em cinzas. Então a mulher disse aos outros: “Não é de admirar um amor tão maravilhoso?”
Uma emocionante história de amor. Histórias de amor são conhecidas na história, principalmente na literatura; a mais conhecida de todas é a de Romeu e Julieta, criação do genial William Shakespeare. Uma coisa todas essas histórias têm em comum. Terminam com a morte.
Nós, na Igreja cristã também somos testemunhas e divulgadoras de uma impressionante história de amor. Não só de amor de uma pessoa por outra, de uma pessoa por sua família, ou seu grupo, mas de amor pela humanidade inteira, por todas as pessoas vivas, mortas e que ainda virão a viver. É a história da cruz de Jesus, com todos os ingredientes dramáticos de sofrimento, traição, abandono, mas com um ingrediente único: não termina na morte, mas introduz a ressurreição.
- nós não somos simples leitores, distantes deste drama, mas somos participantes dele.
Acho que esta é uma das maiores belezas da fé cristã, que a história de amor iniciada por Deus em Jesus Cristo nem termina com sua morte; vai acrescentando personagens e situações de vida pelos séculos afora.
- Nós somos personagens deste drama, desta história de amor. Somos introduzidas nesta história no Batismo e a vivemos no dia a dia, não só na Igreja, mas na família, na sociedade, no trabalho, onde andamos.
Nosso texto ainda esclarece algo muito importante: que a capacidade de amor não é inata. Não sabemos amar por natureza. Por mais linda que seja a natureza, por mais emocionantes sejam os exemplos de animais cuidando de filhotes e às vezes de adultos, isso não é amor: é instinto. Nós interpretamos como amor, mas não é; é instinto.
- só nos, seres humanos, temos a capacidade de amar, SE o experimentarmos primeiro. Quem só experimenta ódio, rejeição, crítica, exclusão, irá reagir assim na vida. Pode até ser tocado pelo amor, mas tem tanta coisa a abafar, que ele não transparece;
- o que nos capacita para o amor e sentir-se amada primeiro, é perceber-se amado, para então poder passar isso adiante. É perceber nas atitudes das outras pessoas aquilo que também já está dentro de si e que precisa crescer, florescer, ampliar sem limites e sem fim...
- De onde virá? Só pode vir de uma fonte; a fonte do amor que é o próprio amor: Deus. Deus entra na vida da gente pelo Batismo e instala o amor. O que a gente faz com isso, depende de muitos fatores, mas ele está lá.
O famoso bispo Agostinho escreveu certa vez: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.
Penso nessas coisas, o reformador Martin Luther desenvolveu a ideia do Deus absconditus: Deus escondido.
Diz que Deus, por ser Deus, muitas vezes aparece a nós de forma inesperada. Significa que compartilha o seu amor conosco em lugares estranhos e escondidos, como, por exemplo, numa estrebaria, onde apenas pessoas pobres conseguiam fazer daquele lugar um lar; ou num monte solitário, fora de Jerusalém, onde apenas criminosos encontravam seu fim. Nesses lugares surpreendentes Deus se mostra e nos encontra.
Também no meu e no teu coração Deus se revela de forma surpreendente, muitas vezes sem que a gente espere, e muitas vezes até sem que a gente perceba.
- por isso o desafio do texto é exatamente este: que a gente esteja atento para as revelações de Deus; que a gente saiba identificar o amor e agir de acordo com a fonte do amor que é Deus mesmo. Amém.